sexta-feira, 3 de setembro de 2010

= = :)

tem um menino na minha sala que é engraçado. não que ele seja engraçado do ponto de vista humorístico. ou sim. não sei. nunca falei com ele. ninguém fala. mas a pura existência dele é engraçada. ele fala muito pouco, fica em um silencio fúnebre por quase todo momento que percebo a presença dele. um amigo meu já falou com ele há um tempo. tentou realmente se enturmar com o dito cujo. esse meu amigo deveria estar num bom humor ou desceu o anjo nele, não sei de certo o porque, mas ele foi falar. puxou assunto como se geralmente se puxa assunto. fala de uma coisa aqui, outra ali, todas o menino engraçado respondia da maneira mais natural do mundo, e até certo ponto de maneira receptiva, tanto que por um segundo achei que ele realmente poderia ser mais do que só um menino engraçado do canto da sala. o meu amigo resolveu então, partindo para a segunda parte de qualquer puxada de assunto, perguntar para o menino engraçado sobre os gostos dele. coisas simplórias do dia a dia. eles discordaram sobre o primeiro tópico. tudo bem. não faz mal. debateram sobre o segundo. também discordaram. certo, veremos. sobre o terceiro também não funcionou. meu amigo me chamou para a conversa. e nós falamos de um quarto assunto, do qual o menino engraçado prontamente discordou de nosso ponto de vista. no momento, naturalmente, perguntamos como diabos o dito menino não poderia gostar de tal coisa. todos gostavam disso. ele disse que simplesmente não e deu suas explicações. não prestei atenção nelas, não me dei ao trabalho, todas seriam baboseiras. perguntamos então, só para arriscar, sobre uma quinta coisa. ele também negou. absurdo. não essa quinta coisa. não é possível que alguém discorde disso. novamente perguntamos como ele se atrevia a não gostar da quinta coisa. ele novamente explicou, dessa vez resolvi prestar atenção, mas ele começou a falar coisas que negavam todo o intuito da quinta coisa e faziam-na perder toda sua singularidade e etc. imbecil. como ele acha que pode vir até a gente e falar essas coisas? a quinta coisa era perfeita por natureza, quem é ele para falar que não? idiota. ele me veio então entrar no assunto de uma sexta coisa e novamente a dar suas opiniões engraçadas sobre isso.
honestamente ele mereceu apanhar. foi bom. para nós e para ele. quem sabe ele assim aprende a parar de ter essas opiniõeszinhas inúteis.
a melhor parte é que a sala inteira se uniu para ensinar ele. todo mundo mesmo. honestamente fiquei orgulhoso da minha sala. o professor no inicio ficou assustado ao entrar na sala e ver a turma inteira aos pontapés no menino engraçado e tentou separar, alguém avisou ao professor o motivo. ele recuou e deixou tudo acontecer, ele entendia nosso ponto.
ele saiu acabado. de verdade. chegou a quebrar um braço e uma costela se não me engano. mas acho que foi bom pra ele, ele deve ter aprendido a lição.
depois de um mês em recuperação quando ele voltou para as aulas, eu fui até ele e perguntei o que ele achava agora das coisas que nós conversamos da ultima vez. ele não respondeu por um tempo. depois olhou pra mim com um olhar decido (desgraçado) e me disse que ainda achava tudo aquilo uma grande coisa sem sentido e que achava que todos deveriam pensar ao menos um pouco antes de...
soco.
outro.
e outro.
ele caiu no chão e la ficou. me perguntaram porque havia feito aquilo. expliquei. acharam compreensivo. ele ficou no chão. ninguém ajudou, claro, porque alguém o faria? demorou até levantar.
nos dias seguintes ele ficou apenas no canto dele da sala. isolado como era certo. às vezes ele tentava puxar assunto com alguém, mas todos olhavam para a pessoa e ficava clara a mensagem: ninguém fala, ninguém toca e ninguém se dirige a ele.
ele não existe. ele não merece existir.
todos entendiam, era o certo. ninguém vem falar essas idiotices e fica impune assim. ele tem que ficar no canto. ele tem que ficar isolado. ele tem que ficar como está.


é o que ele merece.



Iago Schütte

domingo, 22 de agosto de 2010

Megalomania

Sempre, desde a mais tenra idade minha, escuto pessoas (sendo que por pessoas eu digo pais) me dizendo que mentir é feio. mentira tem perna curta. é parte do trabalho deles, claro, tentar trabalhar os filhos da melhor maneira possível na tentativa infinda de torná-los em um cidadão modelo. faça o que digo e não o que faço. na maioria dos casos funciona. não foram poucas as pessoas que já conheci com repúdio ao erótico e desprezo pela falsidade. meus parabéns. vocês são um exemplo. no meu caso não funcionou. não porque eu nasci com o mal em mim, realmente sinto que não. não vejo um cadáver e acho graça nem um assassinato e pergunto educadamente se posso ajudar. também não digo que sou bom rapaz. sou neutro. mas ainda vim à este mundo com um problema. não sou capaz de falar a verdade. não por opção, simplesmente é impossível. se chove digo que faz um bom dia, se a comida está boa digo que cheira a cocô, se uma mulher é bonita, digo que nunca vi mais feia. isso não exatamente funcionou bem para a minha vida. não demorou até perceberem desse meu defeito e começarem a botar a culpa em mim. 'foi ele professora' 'isso é verdade?' 'err... sim.'. me ferrei muito na vida por causa disso. em um belo dia tornei isso contra os outros. puxei o alarme de incêndio, quebrei vidros e queimei provas. me perguntavam se fui eu, dizia que não. dizia com uma naturalidade que impossibilitava qualquer duvida sobre a veracidade da minha afirmação. a vida me impossibilitou de falar a verdade, então minto.
o tempo passou. e passei colando. fui para a faculdade e menti até conseguir meu diploma de direito. me tornei advogado então. não que eu sentisse qualquer amor pelas leis e afins, mas sim porque nenhuma profissão se encaixava melhor com minha definição de ser do que essa. ganhei muitos casos pela minha naturalidade em falar minhas "inverdades". houve até mesmo situações em que chamaram especialistas em detectar mentiras para checar o que eu falava. mas como, para meu inconsciente, tudo que eu falava era verdade, eu não demonstrava qualquer reação. para todos exceto mim mesmo, eu era absurdamente honesto. o mentiroso perfeito. em situações em que deveria responder a verdade eu mudava de assunto ou respondia de forma a dar-se a entender que eu falei a coisa certa. funcionou muito bem. conheci uma mulher uma vez depois de um julgamento. ela não era bonita. uma pessoa maravilhosa, mas até certo ponto feia. começamos a nos relacionar. funcionou melhor do que eu imaginava. ou nem tanto. ela me chamava para sair e quando não queria era obrigado a ir. quando queria tinha que fazer alguma artimanha eloquente para conseguir ir. ela me perguntou se eu achava ela bonita uma vez. disse que sim. ela ficou muito feliz. me chamaram para um firma grande de advocacia em um momento e pediram meu currículo. menti nele também. coloquei conquistas que nunca foram minhas nem nunca tentei fazer. me contrataram. minto até hoje. talvez não mais porque preciso, mas acho que mais porque soube fazer usar isso a meu favor. é errado? talvez. mas funciona.


e ainda tenho perna longa.


Iago Schütte

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

#210

I believe that in order to walk through grief, fear, loneliness, despair, confusion and anger without recourse to drugs, alcohol, over-eating, over-sexing, or the endless mind-numbing distractions provided by Western culture, one must become a spiritual warrior. I further believe that the pay-off for enduring suffering, for soberly embracing the inevitable bouts of emotional pain that life brings, is wisdom and serenity in the face of calamity. But make no mistake here, the path of the warrior is treacherous and cannot be walked alone. To survive, he must have brothers and sisters-in-arms to carry him when he buckles. When we lived and died in small tribes, this principle of mutually supporting one another through the trials of life was deeply woven into the fabric of the group mind. With the advent of towns and cities we were forced to live with the daily dilemma of being desperately alone and yet desperately needing one another. Which is why we are, by design, always seeking new tribes. With that in mind, I humbly offer a simple guideline to evaluate the efficacy of any tribe you might encounter on your path to becoming a spiritual warrior: if they ask for your money or access to your crotch, run away. If they ask for your money, smile unceasingly, never blink, and guarantee to make you a demi-god, running away will not suffice. Change your mailing address and briefly reconsider drugs, alcohol, food, sex and TV.

Chuck Lorre

Happiness is a warm gun

Foi realmente um momento incrivelmente divertido. não sei porque nunca fiz isso antes. na verdade, eu sei, é levemente obvio porque. mas céus, se eu soubesse antes o quão bom isso seria eu ja teria feito há eras atrás. tive a idéia do nada. minha situação não era a melhor. era um daqueles momentos que eu espero que ninguém nunca tenha que passar por na vida. um daqueles momentos de total falta de idéia de 'o que eu faço agora'. já tinha problemas o suficiente para me importar e parecia que a cada um deles que eu resolvia, outros três surgiam no lugar. em um momento de tédio extremo, eu cheguei a fazer um flow chart com os problemas e seus consequentes. ficou bonito. e grande, devo citar. mas bem, era uma daquelas situações em que você não tem mais para onde correr. tinha que arranjar dinheiro de alguma forma. a quem eu falei desse problema me disse que a melhor coisa a se fazer para resolver meu problema era vender tudo e ir morar em um lugar mais simples e de pouco em pouco me reerguer. outros me recomendaram um chocolate. achando que a primeira opção era levemente mais lógica, resolvi seguir com ela. pesquisei no mercado quanto que poderia ganhar vendendo minhas coisas. fiquei feliz ao descobrir que a minha casa valia um preço impressionantemente bom. ótimo. fui ver então quanto valiam os objetos da dita casa. a TV estava velha, não valia muito. certo. o computador também. sem problema. a geladeira consome muito. aham. o fogão vaza gás as vezes. ok. as roupas estão velhas. hmm. o som não lê CD. huh... o congelador não congela. ahh, isso explica... o chuveiro não esquenta e...
acho que meu ponto foi feito.
minha casa era pessima.
até onde consegui pensar com minha matemática minúscula, o preço das minhas coisas no mercado era desprezível se comparado ao da casa. o preço de levar essas coisas para a casa nova seria muito caro. ela era bem longe da minha casa. sério. com o dinheiro que eu tinha, eu tenho sorte de que ela ainda estivesse numa zona considerada urbana.
fazer o que? vendê-las? não valia o esforço. levá-las? idem. o que fazer então?
foi aí que me veio.
veio como um flash em minha mente e por um segundo foi a melhor idéia que eu tive em muito muito tempo.
mas vai ser difícil de limpar, vale a pena?, eu pensei.
não me importo, me respondi, eu limpo, vale a pena com certeza.
então certo. fui até a cozinha, abri o armário, peguei uma garrafa de whisky que tinha guardado para uma ocasião especial (não era exatamente uma situação assim que eu esperava, mas poderia ser), fui até a sala, me sentei na poltrona desgastada e coloquei um pouco do whisky em um copo com uma unica pedra de gelo. coloquei, mexi um pouco com meu próprio dedo e tomei em um gole só. era realmente muito bom, valeu a pena eu ter esperado. não achei que valia a pena desperdiçar tal deliciosa bebida e tomei mas uma dose. e outra. e outra. delicia. sentindo que já havia experimentado o suficiente e que se eu tomasse mais uma dose ou duas eu não conseguiria ficar em pé, me recompús e me levantei. virei todo o resto da bebida no chão. o cheiro do whisky se espalhou pela sala inteira. com a garrafa vazia, segurei-a pelo gargalo, tentei ficar o mais imóvel possível.
mirei a televisão e joguei.
a garrafa entrou de uma unica vez, sendo uma daquelas TVs de tubo, fez uma chuva de faíscas belíssima.
a consciência me bateu mais forte. será que eu deveria realmente fazer isso? convenhamos seria uma bagunça homérica e não sou exatamente o maior amante da limpeza. fiquei parado por uns bons minutos. olhei para a TV destruída e para o whisky derramado e pensei que realmente não valia a pena. fui à cozinha, peguei um pano e voltei para limpar o whisky. 'belo desperdício' pensei. com o pano no rodo, comecei a limpar o chão, quando, por um não raro desastre meu, derrubei um vaso no chão também. fui me virar para ver o tamanho do estrago e o cabo do rodo que eu segurava derrubou um vaso da estante. cacos, cacos e mais cacos. droga. a bagunça já havia ficado pior ainda. nessa hora minha consciência foi dominada pela minha parte 'foda-se' do cérebro que me disse que, agora que a bagunça já começou, que termine. agradeci-a pelo conselho e resolvi jogar um jogo. coloquei em cima de uma mesa comprida mas não larga que ficava atrás do sofá os vasos da casa enfileirados. fui até o quarto, busquei um taco de baseball e voltei. meu jogo era simples. quem destruir o maior numero de vasos com tacadas ganha. eu ganhei. a cada vaso que era destruído em uma rajada de cacos eu me sentia melhor. e a cada um eu tentava fazer diferente, batia mais em cima, mais embaixo, tentando fazer algum tipo de efeito nos vasos acertados. claro que eu não conseguia, mas eles eram destruídos da mesma forma então isso me alegrava. depois de todos os vasos reduzidos à cacos, me voltei para a televisão. ela já não funcionava, obvio, tinha uma garrafa de whisky inteira enfiada nela, mas isso tornava o motivo ainda maior para eu derruba-la. fiz isso. foi tão divertido quanto os vasos.
minha jornada da destruição durou por um bom tempo. fui na estante de porcelana e também destruí tudo. arranquei a porta da geladeira e do congelador que não congelava. quebrei o vidro do forno do fogão e aproveitei para derruba-lo ao chão de uma vez. joguei o computador pela janela. quebrei a mesa do meu quarto me jogando em cima dela. idem com a da sala. pulei na cama até todas as molas e suportes arrebentarem. arranquei a porta do armário, peguei a tesoura e cortei todas as minha roupas que nunca usei/usaria de novo (caridade? puf). apenas no intuito da mais pura ironia, joguei todos os pedaços de roupas debaixo do tapete e da cama. fui até a cozinha, peguei uma faca, voltei e furei todos os travesseiros da minha cama. e a cama. voou pena para todos os lados. o chão ficou branco quase que por completo. apenas para reforçar minha comédia, coloquei algumas das penas debaixo do tapete. fui até o lado de fora onde, no armazém, eu tinha guardado um moedor de madeira. fui até o escritório, derrubei a estante de livros, levantei ela de novo, peguei alguns dos livros mais inúteis, fui até o moedor, liguei e joguei os livros. foi uma chuva de pequenos pedaços de papel. não estava louco/bêbado o suficiente para achar que era neve, mas achei bastante bonito de qualquer forma. empolgado com a possibilidade de novos métodos de destruição, fui até dentro da casa e voltei com uma cadeira de madeira velha como todas as coisas da casa e joguei ela lá. era belo como ela sumia em segundos. desliguei o moedor para poupa-lo (ele era a unica coisa que realmente valia algo além da casa em si). voltei para dentro da casa, peguei todos os temperos/grão/coisas da minha cozinha e saí pela casa jogando tudo. pimenta, páprica, arroz, feijão, tudo no chão (rima não intencional). achei que faltava um pouco de musica no ar. fui até o tocador e tentei por um CD, mas assim como me lembrei, ele não lê CD. aproveitei então para jogar o CD pela janela. e o tocador. e a TV. fui até o banheiro com o taco de baseball e, com uma tacada só, arranquei a torneira. um jato de água começou a sair ininterruptamente, fui até o chuveiro e com igual eficiência, arranquei ele da parede e um jato de agua começou a sair. por um motivo que até hoje eu não sei explicar, a agua estava quente. ótimo. me molhei e continuei minha jornada.
minha dita jornada continuou por mais cerca de duas horas. ao fim eu não conseguia/consigo/conseguirei descrever a situação que estava a casa. tirando a casa em si, tudo, absolutamente tudo, havia sido repartido em dois ou mais pedaços. a sala, centro da minha diversão, estava o melhor. entrei nela molhado, escorregando em feijões e me sujando de tinta. desviei dos cacos, pulei a mesa quebrada e cheguei à poltrona, provavelmente a unica coisa em "perfeito" estado da casa. me sentei e, para minha indescritível felicidade, percebi que a mesa do lado ainda estava inteira e com o copo em cima, e nesse copo havia ainda uma quantidade considerável de whisky. o gelo havia derretido por completo, deixando-o com um gosto aguado péssimo. mas que não anulava a qualidade do whisky. me reclinei na poltrona e, tomando um gole a cada pouco, analisei a situação a minha volta. tudo destruído. lindo. isso tudo era realmente o que eu precisava. foi provavelmente a melhor sensação que tive em toda minha vida. em minha humilde opinião, deveriam-se criar spas que vendessem situações assim. devo dizer-lhes, nunca me senti tão bem. é uma sensação de libertação impressionante. não me importo mais em ir morar numa casa na fronteira do que chamamos de meio urbano. não mesmo. melhor lá do que essa casa como era antes. mas agora era maravilhoso (de um ponto de vista diferente do considerado normal, claro, mas maravilhoso de qualquer forma). cada caco no chão, cada mancha de tinta e cada grão de arroz no chão me traziam um pouco a mais de calma. 'aaahh' expressei enquanto relaxava mais ainda na poltrona e bebia mais um gole do whisky aguado. finalmente me sentia calmo.



'e ainda tenho de limpar essa merda toda depois.' pensei.




quinta-feira, 29 de julho de 2010

Head and Shoulders

When I moved to my new flat I was very happy but when I worked out that the whispering voices that I can hear when I put my head under the water in the bath belong to dead people I wasn't happy any longer, particularly because I realised that every time I put my head under the water when I had a bath the voices were slightly louder than the time before.
I tried not putting my head under the water when I had a bath but every fucking time curiosity got the better of me and I had to try it just for a second just to check and of course, even half a second of that sort of thing would bother anyone.
I keep asking the landlord to put a shower in but he prevaricates and says things like what do you want a shower for thats a lovely old bath thats an antique that is look at it it's Victorian you'd pay top dollar for one of those at the reclamation yard.
It's all right for him. He hasn't got fucking dead people talking to him every time he washes his hair.

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De um vídeo do Radiohead

terça-feira, 27 de julho de 2010

Жди меня

Wait for me and I’ll return,

Only wait very hard.


Wait as you’re filled with sorrow as you watch the yellow rain.

Wait as the wind sweeps the snowdrift.

Wait in the sweltering heat.

Wait when others have stopped waiting,

Forgetting their yesteryears.


Wait even when from afar no letters come to you.

Wait even when others are tired of waiting.

Wait even when my mother and son think I am no more,

And when friends sit around the fire drinking to my memory.

Wait, and do not hurry to drink to my memory too.


Wait – for I’ll return.


Defying every death,

And let those who do not wait say that I was lucky.


They will never understand that in the midst of death,

You, with your waiting, saved me.

Only you and I will know how I survived –

Because you waited as no one else would.

J ibuf sfmjhjpot.

foi uma situação desagradavel. na verdade, não pode se dizer que foi desagradavél. isso é pouco. a situação era terrivel. a ponto de você se perguntar o porque que alguem merece isso. foi assim que eu estava. a situação previamente citada começou assim como todas as coisas ruins que acontecem na vida de qualquer pessoa. do nada. sim, não negue, sempre que você esta na felicidade ou no conforto alguem/algo complica a situação (eu ia usar um termo não ortodoxo, mas nunca se pode garantir quem vai ler esse texto. e não quero ser processado, não deve ser agradavél. advogados sabem sugar seu dinheiro tõ bem quanto mentir. e as vezes usam de ambos. esse parenteses já esá bem grande, com licença) . eu estava muito bem, sim, surpreenda-se, e a vida ia bem. não havia do que reclamar. sim, havia uma reclamação aqui e ali. não existe uma unica alma viva nesse mundo que esteja completamente satisfeita com seu status quo. seja um rico em sua mansão ilegal que queria uma piscina com 5 metros a mais, ou um sem-teto que queria tirar o 'sem' de seu titulo. mas relevando a minha chatisse com as pequenas coisas, eu estava muito feliz. mas a vida é uma caixinha de surpresas que, assim como em caixinhas de surpresas reais, as surpresas são no geral desagradaveis. pois bem. era uma manha pacata, num dia pacato com situações pacatas e conversas pacatas. (e muitos poucos adjetivos). estava tendo uma conversa igualmente pacata com um homem do meu trabalho, gente boa, devia ser um pouco mais novo do que eu mas aparentava ser muito mais velho. ele falava algo sobre aviões. não que isso tivesse nada a ver com o que eu efetivamente fazia no trabalho, era aquele tipo de papo de duas pessoas que vão pegar um café e não querem ficar em um silencio constrangedor. e ele me vem falar de aviões. e ele, aparentemente, não conseguia perceber que aquele olhar em meu rosto dizia que eu não dava a mínima para o que ele falava. mas, pois bem, eu demorava para terminar meu café mas deixei-o continuar, quem sabe em algum momento da minha vida eu vou precisar saber sobre as revolucionarias medidas do novo air blá-blá-blá. no meio da conversa (enquanto ele me falava sobre a cauda aerodinamica do dito air blá-blá-blá) ele começou a falar estranho. falava apenas sons que não sabia distinguir de maneira nenhuma. começei a achar estranho assim como qualquer um acharia. perguntei o que ele estava falando. ele parou e repitiu o mesmo sons indefinido de pouco antes. eu fiquei parado, me perguntando se aquilo era uma brincadeira. resolvi perguntar isso à ele. ele disse que brveuoow? (não sei o que ele falou, mas aparentava ser uma pergunta). eu disse que ele não falava paravras com sentido. ele repetiu o som anterior. eu continuei encarando-o. ele disse vvndfje e colocou a mão no meu ombro e parecia preocupado com algo. falei esquece e me dirigi para meu cubilo não longe dali. o lugar onde eu trabalhava era bom. não maravilhoso. bom. tinha ar-condicionado, e isso ja contava muito, vide o calor do lado de fora, mas ainda era tudo incrivelmente monocrômico que eu ignorava a existência do resto das coisas. chegando na minha falha tentativa de um escritório confortavel, eu me sentei em minha igualmente não confortavel cadeira para continuar a digitar os documentos que já estavam na minha mesa a aproximadamente um mês. não me julguem, eu simplesmente não me importo. e meu serviço é tão secundario que ninguem mais se importa. até onde eu sei eu posso brincar de cowboy o dia inteiro que ninguem vai se importar. eu só fico aqui por causa dos planos de saude, do carro, das ferias e outros. eu amo sindicatos. voltando aos ditos tardios papéis, sentado em minha cadeira de espinhos (eu acho que poderia processar os fabricantes por falsa propaganda ao botarem 'confortavel' nas caracteristicas do assento da tortura) comecei a ler os papeis. assim como com o companheiro do café, onde era pra estar 'Relatorio anual (algo que não me lembro)' estavam apenas palavras indefinidas. estranhei. fiquei confuso tambem. e estranhei a confusão da estranha situação. talvez alguem estivesse pregando uma peça em mim. mas eu não falo com ninguem aqui a esse ponto. o cara do café não tem amigos que não sejam aviões imaginarios, então não vejo ninguem aqui nesse comodo que teria feito isso. fui até o cubiculo da frente para perguntar para a simpatica moça acima do peso o que diabos havia acontecido com meus papeis e se ela havia visto alguem entrando no meu escritorio (eu gosto de chamar aquilo de escritorio, me faz sentir-me mais importante. a simpatica moça me disse que bvrheuow e nvfreuiwnp. nvudipew?. mas claro minha senhora, isso faz completo sentido. perguntei-me novamente se era brincadeira e mias uma vez exprimi meus pensamentos. e ela tambem disse egwsya7u (como o 7 entra na fala, não me pergunte). desisti e resolvi ir pra casa. no caminho achei estranho. todas as placas diziam palavras sem sentido. fiquei levemente preocupado. cheguei em casa mais preocupado ainda. cheguei e chamei minha mãe (sim, eu moro com minha mãe, foda-se). ela apareceu lavando um copo da cozinha e, com uma delicadeza que só minha mae sabe fazer, me perguntou se cewvtfquveuwq? eu travei. agora eu tinha quase certeza que não era brincadeira. ou era uma gigantesca e absurdamente bem elaborada e gostaria de comprar uma cerveja para quem fez isso tudo, e depois chut-alo soleemente no saco. perguntei, por protocolo já, para minha mãe se ela estava brincando. ela me disse haufehwuvgsayie. oh céus. falei para ela que não entendia nenhuma unica palavra do que ela estava falando. ela me fez cara de você esta brincando comigo (cara essa que já me consierava especialista) e me perguntou faflanurewo? repeti minha ultima fala. ela deixou o copo em cima de uma mesa por perto (o que eu considerei chato, acho muito mais épico quando jogado no chão) e veio correndo em minha direção dizendo coisas sem sentido. repeti minha fala a cada vez que ela falava algo. ela começou a aparentar realmente preocupada. subiu as escadas correndo e voltou com um casaco meu e me entregou. supus que fosse para eu usar então vesti-o. ela me falou algo com menos sentido ainda e saiu pela porta. perguntei aonde iamos. ela me falou flabelbrneia. falei minha boa e velha frase. ela falou mais devagar. o que não mudou nada, mas percebi que o 'e' era acentuado. repeti-me. ela aparentou ter uma ideia e escreveu algo numa folha de papel e me mostrou. idem. ela ficou agora confirmadamente preocupada. ela me desenhou uma cruz vermelha. supondo que ela provavelmente não estava propondo irmos ajudar doentes africanos e sim que iriamos ao hospital, concordei e segui-a até o carro. no caminho silencio total. primeiramente porque qualquer conversa duraria menos de 3 segundos e seria levemente unilateral, e em segundo porque eu não estava com animo de conversar. por algum motivo essa situação toda me deprimia. mas nem tanto. perceber que me deprimia mais nem tanto me deprimiu mais ainda. sim, tão estranho quanto. mas de qualquer forma, achei realmente estranho eu não estar tão deprimido, afinal, eu meio que não entendia nada que ninguem falava. mas eu me senti quase que neutro. minha confusão foi interrompida pela nossa chegada ao hospital. ao entrarmos na sala de espera, absurdamente lotada, minha mae foi direto ao terminal de atendimento.




são quase meia-noite, eu dormir tarde ontem e acordei cedo, meu dia foi pesado e eu estou com febre e dor de cabeça, a unica maneira de terminar esse texto é estende-lo por quase o dobro do tamanho atual, então me desculpem por terminar assim do nada mais entendam meu ponto.


boa noite a todos.


Iago Schütte

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Cosmo-agonia Parte 2

Favor ler Parte 1
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era uma minúscula coisa que parecia com uma bexiga. nenhum ser como o algo poderia depois de tanto tempo vendo grandes bolas de algos explodindo constantemente não achar isso a coisa mais legal de toda sua existência. (não que você possa exatamente dizer que isso é uma existencia, mas não vamos entrar nesse papo existencialista e continuar com a historia). pois bem. o algo ficava observando a coisinha ululante durante eras. via como ela se mexia para a direita, depois para a esquerda. OH! agora ela foi pra cima. céus, é emoção demais para o coração teórico do algo. e assim foi, o algo foi vendo a pequena coisinha ir pra frente, pro lado, pra cima pra baixo. e se divertindo assim. e da mesma forma foi por um longo tempo. esquerda. direita. cima. baixo. OH! não. nada. ela só foi pra direita de novo.
o algo se cansou.
convenhamos que você tambem se cansaria. ficar vendo a mesma coisinha fazer as mesmas coisinhas durante um periodo de tempo tão absurdo quanto o algo ficou, você tambem se cansaria. eu me cansei e o nada se cansou.
o algo então, exausto dessa falta de novas direções, resolveu fazer outras coisas. talvez fazer aqueles tão esperados buracos negros que a tempo ele planejava. eles sim tem cara de ser divertidos.
e deixou a bexiguinha sem criatividade para trás.
buracos negros de fato divertiram o algo além do que a bexiguinha inútil divertiu-o por muito tempo. talvez até por tempo demais. porque o algo cansou deles. sim, ele é tão voluvel quanto.
na falta do que fazer, nada mais natural para o algo do que ir checar o que andava acontecendo na existência a sua volta. e talvez até visitar o nada, porque não?
tudo ia bem. coisas explodindo e pegando fogo como planejado. ah... a existência. mas então o algo se lembrou que havia algo que ele ainda não havia checado. a sua entediante bexiguinha. fazendo uma visita rápida à insignificante pedra azul, o algo ficou chocado ao descobrir que tudo havia mudado. antes não havia simplesmente nada (não aquele nada) na pedra redonda. agora tudo havia mudado. haviam grandes coisas verdes na terra e pequenas coisas na agua. mas que bonito! então a bexiguinha fez algo alem de ir para a esquerda!
o algo ficou então acompanhando as coisas daquele planetinha insignificante. as novas coisas eram de fato bem mais legais do que a bexiguinha jamais foi. as coisas verdes tinham um cheiro bom e as pequenas coisas na agua iam em bem mais direções do que a bexiguinha. e ainda faziam curvas! era muita felicidade para um algo só. e agora que havia tanta mais coisa acontecendo, o algo ficou observando aquele planetinha e deixou o resto do universo se cuidar sozinho, ele já tinha idade para isso.
com o tempo o algo foi vendo, e ficando maravilhado, com as coisas que aconteciam naquele lugar. coisinhas se alimentavam de outras coisinhas, e enquanto limpavam os dentes dos restos da coisinha que eles haviam acabado de comer eram comidas por uma coisa. que rindo da ironia da situação se pegava distraída do ataque da coisona que a surpreendia por trás. era uma surpresa atrás da outra.
e se tal diversão não fosse o suficiente, em um momento uma das coisinhas resolveu checar o que estava acontecendo fora da agua. por curiosidade ou por falta de vontade de ficar vendo coisinhas se alimentando de coisinhas inocentes, essa coisinha aventureira abriu um novíssimo capitulo na historia do Planetinha de Diversão do Algo. esse coisa aventureiro teve pequenas coisinhas aventureiros que por sua vez tiveram coisinhas aventureiras juniors. e assim foi. e quando o algo menos percebeu, na terra das grandes coisas verdes haviam muitas e muitas coisinhas aventureiras. ou seja. agora o algo tinha duas fontes de entretenimento! eu não consigo descrever em palavras como isso deixou o algo entusiasmado. se antes já tinham muitas reviravoltas na historia, agora com todas essas grandes coisas verdes para as coisinhas aventureiras subirem e saltarem de, a historia vai ficar bem mais interessante.
com o tempo, as coisinhas aventureiras deixaram de serem coisinhas e viraram gigantes coisonas aventureiras. e coisas gigantes sempre deixavam o algo empolgado. e quando uma coisa gigante atacava uma coisa de igual gigantosidade e as duas travavam uma batalha epica, apenas para descobrir que essa batalha se travava em cima de outra coisona mais epica ainda e as duas coisas gigantes eram engolidas era o clímax para o algo.
depois de um tempo, o algo se cansou (novamente) do que acontecia e resolveu fazer uma mudança brusca no roteiro da historia. mas o que? mas é claro! vamos jogar uma grande pedra no planetinha e ver o que acontece. e isso o algo fez. mas para a surpresa do algo, depois que ele jogou a pedra ele percebeu que talvez ela fosse grande demais. e acabou destruindo basicamente todas as grandes coisas que ele tão amava. isso chateou bastante o algo. ele fez uma cagada pesada. mas enfim, talvez algo bom viesse disso.
o algo então percebeu que as coisas epicas e destrutivas tinham dado lugar a umas coisinhas peludas e, bem, normais. e isso não tinha muita graça para o algo, e com o tempo ele foi perdendo interesse nesse novo mundo que ele havia criado. essas coisinhas no maximo jogavam frutas das grandes coisas verdes umas nas outras. e só. nada de mais. qualquer um faz isso.
e então o algo se cansou do planetinha e resolveu partir pra uma próxima.
mas o algo, de saida, viu algo. (não ele mesmo, algo no sentido de alguma coisa). ele olhou mais de perto. uma das coisinhas peludas, que era meio diferente das outras, andava em duas patas e tudo mais, não estava com um olhar vazio como todas as outras, ela tinha um olhar diferente, e esse olhar estava voltado não para o ambiente à sua volta, ele estava voltado para outro lugar.

'Espera aí. ela esta me vendo?!'



Iago Schütte

terça-feira, 6 de julho de 2010

right or left?

tem pessoas que nascem com um dom incrivel. tem gente que sabe dançar, tem gente que sabe cantar, tem gente que sabe arrotar o alfabeto. cada pessoa tem a coisa que sabe fazer melhor. mas tem pessoas que tem dons simplesmente incriveis, seja ler um livro em meia hora ou arrotar o alfabeto ao contrario. mas, esse homem em questão (devo citar, há um homem em questão nessa história) tinha o dom supremo. ele estava sempre certo. simples assim. não que se ele falasse que um país não existia e ele fizesse puf do mapa. ele simplesmente, sempre estava certo. ele sabia a resposta para tudo. se pedissem ele para responder uma pergunta, ele sabia responde-la com perfeição ao minimo detalhe, mesmo nunca tendo ouvido sobre o assunto. mas se pedisse para ele do anda criar algo ou desevolver algum raciocinio ele não conseguia. precisava de um ponto de partida.
claro que desde sua tenra idade pessoas começaram a notar seu dom (ou sua sorte, como quiser). e então o homem em questão cresceu em meio a uma nuvem de 'omfg, esse cara é foda, ele sabe de tudo, vamos dar coisas para ele mesmo não sabendo direito quem ele é'. mimado pra caralho.
mas é claro, convenhamos, se houvesse alguem no mundo sem-graça (real) que realmente estivesse sempre certo, caramba, ele seria dobalacobaco. digo, eu compraria uma cerveja pro cara, sabe?
ou talvez não.
porque, assim como aconteceu com o homem em questão, ele se tornou um filinho de papai imbecil. imbecil literal e figurativamente. o primeiro porque ele não precisava realemente aprender nada, quando perguntassem ele saberia dizer e ficava por ai mesmo. e o segundo porque ele ficou um saco por causa disso. ninguem podia ter uma discussão porque ele estava sempre certo. e pessoas que estão sempre certas percebem, cedo ou tarde, o poder que tem em suas mão.
o homem em questão desde cedo soube do poder que tinha e conseguiu aproveita-lo da melhor (ou pior, depende do ponto de vista) maneira possivel.
chantageava pessoas, enganava-as, criava discussões sem motivo porque ele sempre ganharia.
eu faria o mesmo
confesso
vocês leram o ultimo texto (ao menos espero que sim), e sabem que qualquer pessoa que tivesse o poder de estar sempre certo nas mão aproveitaria-lo e se tornaria um imbecil. mas esse cara exagerou. literalmente ninguem gostava do cara. e quem gostaria? falavam com ele porque era um compania poderosa e tinham medo de te-lo como inimigo. e assim cresceu o homem em questão, poderoso e um saco.
mas a vida é uma caixinha de surpresas.
e um belo dia, o homem em questão estava vivendo sua vida imbecil, estando certo e esfregando isso na cara de todo mundo. rotina. mas nesse dia em questão, o destino, se divertindo com um casal ai por perto, resolveu se divertir as custas do homem em questão.
o destino nem sempre é um cara legal. ta ta, ha quem diga que o destinho sempre o ajuda a fazer o que planeja e bla bla bla, mas, convenhamos, ele é um louco por adrenalina, ele precisa de mudanças bruscas na historia. ta todo mundo feliz, correndo de mãos dadas pelo campo florido quando do nada BAM! explosão nuclear. esse é o destino. se divertindo as suas custas.
mas de volta à estória do homem em questão. quando o dito cujo estava à seu caminho de sua caminhada matinal certa, pelo caminho certo e no tempo certo, o destino apareceu e deu uma mexida em tudo. sem o homem perceber é claro. e quando um pacato cidadão veio perguntar ao homem em questão que horas eram e o homem em questão respondeu o horario errado o mundo parou.
podem falar que é exagero, mas em minha historia o mundo parou.
ok, o mundo continuou, newton, incercia, bla bla bla. é melhor dizer que as pessoas do mundo pararam. as vezses meio inconvenientemente, muitas dirigiam. parar de se mexer quando estiver dirigindo pela adrenalina pode ser legal, mas por choque nunca é bom. você fica travado até que um outro carro, dirigido por um ser igualmente travado resolva dar um abraço apertado no seu carro.
choque.
todos, de todos os cantos por onde aquela resposta errada ecoou olhavam para o homem em questão.
o homem que tudo acerta havia errado.
choque.
o homem em questão já era tão famoso por seus acertos que o mundo já o conhecia, era uma real celebridade mundial, e ve-lo finalmente cometendo um deslise era simplesmente o clímax de uma semana chata.
pessoas e suas tendencias por escandalos com celebridades
não preciso dizer que o choque durou por mais um longo tempo. o homem em questão tambem estava em choque. o mundo meteu o dedo na tomada basicamente.
depois disso o homem em questão simplesmente continuou a acertar, mas as vezes errava. e de pouco em pouco ele foi perdendo sua credibilidade. todos erramos, é normal, e se aquele cara tambem erra, ele é normal, então porque diabos a gente tem que continuar a se importar com ele?
o homem em questão deixou de ser o homem em questão e se tornou só o homem. deixou de ser o imbecil imbecil que tudo acertava para ser o imbecil imbecil que erra assim como todo mundo.
se tornou um de nós. isolado. mas um de nós de qualquer forma.


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havia um motivo mais profundo para esse texto, mas eu me distrai há um tempo atrás, então vou deixar para terceiro encontrarem um significado profundo aqui.

Iago Schütte

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Monochrome

'porque você está aqui?' perguntou o homem de branco. 'para fazer o que devia ter feito a muito tempo' disse o homem de preto. os dois ficaram se encarando por um tempo que acredito eu que para eles foi rapido, concentração tem esse efeito, mas para reles mortais assistindo a cena, foi tão longo quando uma mente consegue suportar. 'eu me pergunto' começou o homem de branco 'o que nos levou a ter esse debate'. 'mas não é obvio?' falou o homem de preto 'olhe a sua volta. veja bem o que aconteceu, acontece e acontecerá'. o homem de branco olhou rapidamente para a janela apenas para não parecer rude, não precisava realmente examinar, ele sabia muito bem o que estava acontecendo. era o caos. ele sabia que tinha feito algo errado, ele sabia que todos naquela tentativa de governo fizeram algo errado. eles não achavam que estavam errando, claro, raramente alguem erra estando ciente de seu erro. para eles era a coisa natural a se fazer, a oportunidade surgiu, então a melhor opção era claro aproveita-la. mas, assim como foi bastante enfatizado, havia sido um erro. 'qual é o seu ponto?' indagou o homem de branco. 'meu ponto?!' riu satisfatóriamente o homem de preto 'haha. meu ponto, meu amigo, é o de que você sabe muito bem o papel que voce teve nisso tudo, você sabe o que você fez. não sei como o senhor consegue dormir a noite. o mundo o qual você dizia amar, o mundo para o qual você jurou lealdade está em chamas. ele queima. arde alimentado pelas idiotices que você fez. não foi por boa vontade que você fez o que você fez, não foi por amor. foi a ganancia. a vontade de ter demais. você não só ultrapassou os limites como jogou-os no lixo e riu deles. esses limites existiam por um motivos, eles existiam porque alguem em algum momento soube que alguem como o senhor iria surgir e usar de suas ferramenteas para tentar demais. querer demais. você foi esse alguem. você destruiu o mundo.'
silêncio.
o homem de branco sentava em uma posição pensativa, com os dedos entrelaçados em frente ao rosto. olhava profundamente o homem de preto. novamente se deu uma daquelas longas pausas. o homem de preto esperava ansioso por uma resposta. aquele era o momento que por muito ele havia esperado, o momento de esfregar na cara deles o que eles haviam feito. de esfregar o focinho do cachorro no cocô que ele fez. o momento de se vingar.
o homem de branco o olhava com os olhos fixos, raramente piscando. depois de muito pensar. ele se preparava para falar quando um tijolo quebrou a janela. os dois homens monocromaticos foram à janela ver o que havia lá fora. olhando para baixo (eles estavam no segundo andar) eles viam o caos literal. algo como apenas em filmes conseguimos imaginar acontecer. carros virados, alguns em chamas, manifestantes com paus e pedras indo em direção a policiais com escudos e fuzis. hidrantes estourados. cães soltos. casas em chamas. fumaça. confusão.
o homem de branco não proferiu uma palavra, não havia motivo. aquilo não era novidade para ele. tudo que o homem de preto havia dito era verdade. ele havia causado aquilo. e não havia muito o que fazer além de contemplar sua obra.
o homem de preto estava tão feliz quanto era possivel, aquele era o clímax que seu discurso pedia, a prova de tudo que ele disse. o homem de preto imaginava tudo como um grande cenário, como se tudo que se passava naquela sala isolada em um predio qualquer sem ninguem estivesse sendo assistido por milhões de espectadores, e agora que estava tudo no máximo, era hora de proferir o golpe de misericordia.
'então, bonito não é?' disse ironicamente o homem de preto. o homem de branco continuava a olhar de forma vazia para o lado de fora. 'se em algum momento o senhor achou que tudo o que fez, seus abusos e suas estupidezes, iriam dar certo, o senhor se enganou profundamente. e aqui' ele apontou para a janela 'está a sua prova. aqui está seu castigo.' proferiu o homem de preto.
silêncio.
o homem de branco deixou de encarar vagamente e seu olhar se tornou mais focado. seu olho mudava rapidamente de foco, olhava para os carros em chama, os corpos no chão, as brigas, o caos. foi então que ele se virou rapidamente e encarou o homem de preto. seus olhos mostravam um misto de tristeza e raiva. isso tomou de choque o homem de preto, que até então achava que o de branco era nada mais do que uma carcaça podre e fétida de um ser humano. aqueles não eram olhos vazios, havia algo lá.
'eu achei que iria dar certo. achei do fundo de meu coração. eu errei? claro que sim, cometi o erro mais banal e estupido que qualquer ser humano faria se tivesse a oportunidade. abusei do poder que tinha. você me julga. diz que sou um monstro, que não sou humano. fala que sou apenas um resquício do que um dia foi uma alma. mas não sou. tudo que fiz apenas prova o contrario do que você falou. o que mais faz um ser humano do que um erro? somos animais. somos o animal racional estupido. digo mesmo que até podemos esquecer o quesito racional da definição humana. o ser humano, esse animal que somos, possuio infinitamente mais caracteristicas animais do que o ser racional que alegamos ser. nos consideramos racionais por que ao invés de ficarmos nas arvores, nascendo, crescendo, procriando e morrendo. nós criamos. nós fizemos mais. criamos. criamos (ou descobrimos, se preferir) os numeros, criamos maravilhas da tecnologia, criamos coisas uteis e inuteis. criamos produtos. medicamentos. criamos muito. mas, para que criamos? a maior parte dos inventos não foram criados pela dita "vontade de criar o novo" e sim pela simples vontade de ganhar mais. ganancia. celulares, computadores. eles se expalharam e foram vendidos com a desculpa de que seus criadores queriam que o mundo se conectasse, que a grande massa desordenada que é o mundo pudesse ver sua desconezão de maneira mais geral. então pergunto: conseguiram isso? claro que sim. e congratulo-os por isso. mas os motivos foram outros. foram movidos pelo animal. foram movidos pelo sentimento e a necessidade de ganhar mais. a vontade de se impor aos outros animais pelas suas posses. mas, vamos sair desse ponto de vista financeiro e ganancioso, que por mais que será o maior exemplo, não é o único. parto então para a pergunta: porque procriamos? oras, não vejo nenhuma explicação completamente racional para isso. tente, é impossivel. a resposta mais comum é a de que devemos passar nossos genes para a frente, "viver para sempre". besteira. para que? não vivemos para sempre em nossos filhos. nossos genes vivem. porque amamos? tambem outra pergunta sem resposta completamente racional. o que nos leva a ter esse desejo do outro? essa vontade profunda e muitas vezes incontralavel de ter o outro? de muitas vezes não te-lo somente do ponto de vista da carne, mas te-lo como amigo, como alguem que estará lá? se não com a desculpa do "viver para sempre", não há motivo. o meu ponto, em todo esse meu longo discurso disconexo meu companheiro. é mostrá-lo o que é o ser humano. que a ilusão que criamos de nós mesmo, dizendo que somos diferentes e até mesmo "especiais" é pura bobagem. somos animais que souberam somar 2+2 e saber que não é cinco. não somos racionais por completo. somos guiados pelos nossos instintos e desejos. fui animal em minhas decisões. o ideal seria eu ter pensado direito, visto que a chances de toda minha ideia idia dar em merda eram grandes. mas não foi o que fiz. fui dominado pelo animal. fui dominado pelo que eu sou. e meu eu-verdadeiro me mostrou o que tinha, o poder que estava em minhas mão. o animal me guiou para o caminho da ganancia, do querer mais. e nós erramos. erramos completamente. se o meu minimo eu-racional houvesse por um pouco se mostrado, e tentado intervir, toda essa carnificina que voce está vendo ai fora não teria acontecido. mas meu eu-verdadeiro se mostrou. por isso não digo que o que eu fiz foi certo. não há desculpas para o que eu fiz. mas apenas quero mostra-lo que você não é tão diferente de mim. pode negar o tanto que quiser, mas o sangue em suas veias e o coração em seu peito provam que você é igual a mim. carne e osso. um animal. e que na minha posição você faria o mesmo. não adianta negar. não adianta querer dizer que nunca faria isso, porque você sabe muito bem que você o faria. no momento em que sua mente percebesse o poder em suas mãos o animal viria a tona. e você seria igual a mim. mas em uma carcaça diferente.'
silêncio.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

impulso

'porque você está aqui?' perguntou o homem de branco. 'honestamente, eu não tenho ideia' disse o homem de preto. os dois ficaram se encarando por um tempo que acredito eu que para eles foi rapido, concentração tem esse efeito, mas para reles mortais assistindo a cena, foi tão longo quando uma mente consegue suportar. 'eu me pergunto' começou o homem de branco 'o que nos levou a ter esse debate'.
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eu não tenho a minima ideia de onde vai parar esse texto.

boa noite

Iago Schütte

domingo, 30 de maio de 2010

Cloud Cuckoo Land - Parte I

Data: 30/05
Dia: 0

Hoje vou receber um paciente bem interessante aqui no consultorio. aparentemente ele sofre de algum tipo diferente de ilusão, o médico que me ligou não deu grandes explicações.
trarão ele do hospital do centro da cidade. os medicos de lá disseram que tentaram de tudo e que nada funcionou. então resolveram traze-lo para a nossa clinica, que é mais especializada em disturbios psiquiatricos desse tipo. me senti honrado, claro, mas estranhei o fato de não terem conseguido fazer nada. vou prestar atenção nesse paciente.

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'Bom dia mundo!' pensei ao acordar. olhei pela janela, o dia estava como sempre belíssimo. quase que de maneira clichê, o sol brilhava, os passaros cantavam, as pessoas andavam na rua se comprimentando, a criancinha brincava na rua. mais um dia perfeito.
andei animado até a cozinha. lá, toda a familia já estava de pé. com sorrisos, todos nos demos bom dia, perguntamos como havia sido a sua noite e tudo mais. preparei uma deliciosa torrada e comi-a. na TV passava o jornal. aparentemente tudo ia bem. a economia crescia, a paz reinava e ninguem havia matado ninguem. enquanto meus pais conversavam sobre a corrida que eles iriam fazer no dia seguinte, fui checar o calendario para ver o que havia programado para hoje. clube de manhã, trabalho a tarde e a noite um magnifico jantar com a minha namorada naquele restaurante maravilhoso no centro da cidade.
subi as escadas, tomei um delicioso banho, me arrumei e passei o meu novo perfume. muito cheiroso por sinal. fui me despedir do meu pai, que me avisou que antes de ir pro trabalho eu teria que ir com ele nos encontrarmos na faculdade com meu tio. o clube ficava para outro dia.
a cidade estava maravilhosamente viva hoje. o transito estava quase nulo e cheguei na faculdade rapidamente. meu tio, professor na faculdade, estava me esperando na porta. quando chegamos meu tio e meu pai conversaram algo rapidamente e se despediram. deixei a chave do carro com meu pai que seguiu com o carro e acompanhei meu tio para dentro da faculdade. meu tio começou a fazer então uma sério de perguntas interessantes e tentei responde-las da melhor maneira possivel. gosto muito do meu tio.
nós ficamos conversando por um longo tempo. na hora de ir para o trabalho percebi que estava sem a chave do carro e sem o proprio carro para inicio de conversa. meio envergonhado, pedi o carro do meu tio emprestado. para minha surpresa ele me emprestou-o na hora. eu realemente achava que ele não emprestaria. o carro dele era uma antiguidade belissima que ele cuidava como um filho. agradeci de todas as meneiras possiveis. ele me guiou até o carro e fechou a porta para mim
dirigi feliz pela cidade. todos me olhavam com admiração. afinal, não é sempre que um carro desses anda pela cidade.
estacionei na garagem do prédio e subi para o trabalho. comprimentei todos no caminho. sempre gosto de dar bom dia para todos, nós sempre nos damos muito bem.
cheguei na minha sala rapidamente. não é a maior sala do prédio, ela pertence ao presidente da compania. já me ofereceram muitas vezes o cargo de presidente mas eu nunca aceitei. não queria ter responsabilidade demais, por isso aceitei esse cargo que tenho no momento, que é puxado, mas dá um bom salario e consigo meu tempo livre.
tudo ia ótimo na empresa. os numeros verdes cresciam e os vermelhos diminuíam.
o dia passou rapidamente e já estava na hora de começar a me arrumar para o encontro. fui para casa com o carro do meu tio, aproveitando cada momento de direção daquela bela maquina. cheguei em casa com meu pai na porta adimirando o carro. tirei onda um pouco e entrei para dentro para me arrumar. tomei um banho demorado, me arrumei e saí. quando olhei para o relogio vi que estava atrasado. liguei para ela e ela me acalmou avisando que tambem estava atrasada.
chegamos ao mesmo tempo no restaurante. els estava simplesmente linda. nunca na minha vida eu achei que conseguiria uma mulher assim. ela era a mulher perfeita. belissima, inteligente, engraçada, possuia um ótimo gosto musical e além do mais tocava cello.
fomos juntos até o garçom que nos guiou até a nossa mesa. puxei a cadeira para ela como todo bom cavalheiro e ela me retrubuiu com um belo sorriso.
pedi pro garçom o melhor caviar e o melhor champagne que ele podia nos fornecer. ele concordou e partiu.
começei a conversar com ela, e nos entretemos tanto que simplesmente perdemos a noção do tempo. mas voltamso à realidade com o ronco de nossas barrigas. chamei o garçom que passava e pedi para que trouxesse logo a nossa comida pois estavamos nós dois mortos de fome.
continuamos a conversar até que o garçom chegou com a comida. brindamos e começamos a comer. a comida estava simplesmente maravilhosa. chamei o garçom para que ele falasse para o chef como aquele caviar era provavelmente o melhor que ele já havia comido na vida dele. o garçom agradeceu o elogio e foi para a cozinha contar para o chef.
depois de terminadas nossas refeições, ficamos conversando por um longo tempo, até o momento em que o restaurante ia fechar e deveriamos partir.
a casa dela era bem perto do restaurante então resolvemos ir andando. chegamos na porta dela rindo até quase cair. depois de conseguirmos nos conter nos despedimos com um beijo e voltei para o restaurante para buscar o carro e ir para casa. do nada me veio um forte sono. rapidamente cheguei em casa e me deitei

essa foi definitivamente um noite maravilhosa.

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Data: 31/05
Dia: 1

estou simplesmente em estado de choque. nunca em minha vida eu vi algo assim. quando ele chegou o medico que o acompanhavam me encontrou do lado de fora do carro e me explicou que no momento ele acreditava que estava na faculdade, onde eu era professor, e que era melhor não negar esse fato. cumprimentei-o gentilmente. ele não parava de me chamar de 'tio' por algum motivo. ele me perguntou sobre a faculdade, como iam as aulas e reclamou do tempo. eu apenas fui com a historio, e respondi todas as perguntas como se tudo fosse verdade. com a desculpa de ver algo sobre a materia, levei-o até uma das salas do consultório. lá tentei trazê-lo de volta para a realidade perguntando coisas sobre o mundo real. nesse momento vi uma das reações mais impressionantes de toda a minha carreira. o cérebro dele se protegeu de tal forma dentro de seu mundo privado, que quando eu fazia uma pergunta sobre o mundo dele, ele respondia naturalmente, mas qunado era uma pergunta sobre o mundo real, ele simplesmente distorcia completamente a pergunta de forma que ela se encaixasse em algo coerente com o mundo dele e respondia como lhe fosse conveniente. fascinante. depois ele me veio falar que precisava ir para o trabalho e, como o carro tinha ficado com o pai dele (que eu suponho que ele achasse que fosse o médico que o trouxe), ele me pediu o meu emprestado. vendo que não funcionaria em nada tentar negar a historia, falei que não havia problema e o guiei até um dos nossos leitos. quando chegamos na porta da sala, resolvi testar algo e falei que aquela era a porta do carro. quase que instantaneamente, o que era para ser na verdade uma porta normal, na mente dele se transformou na porta de um carro belissimo e de colecionador. ele ficou bastante feliz, me abraçou agradecendo, entrou na sala e acenou em despedida pela janela da porta enquanto eu a fechava e a trancava.
pelo resto do dia eu fiquei observando-o pela camera instalada na sala enquanto ele agia de acordo com seu mundo. vi quando eu fechei a porta como ele se sentou na cadeira e se movimentou como se estivesse dirigindo um carro e comprimentando pessoas imaginarias. depois ele aparentou entrar em um ambiente de trabalho onde comemorava o aumento dos lucros da empresa e vivia um dia normal de trabalho. depois ele começou a andar em circulos pela sala. acredito que ele estava achando estar andando pela cidade. ele então começou a se arrumar para um encontro que ele iria aparentemente ter. ele dirigiu novamente seu "carro" até em casa, onde ele foi tomar banho.
a parte do tomar banho é que realmente me impressionou. o nivel da profundidade de sua ilusão é tão grande que ele aparentemente sentia, ouvia e cheirava tudo como se fosse verdade. ele tirou a roupa, ligou o chuveiro imaginario, e ficou se movimentando como se passando o sabão pelo corpo, lavasse a cabeça. teve um momento em que ele começou a reclamar de dor nos olhos pois shampoo havia caido neles. curioso, dei um zoom na imagem e percebi que os olhos dele estavam vermelhos e lacrimejando, como se realemtne houvesse caido shampoo em seus olhos! depois de tudo isso ele colocou de volta as roupas (felizmente) e passou o que parecia ser um "perfume" e apreciou um cheiro inexistente.
ele entrou no carro e saiu em direção à algum lugar. no caminho ele olhou para um relogio imaginario e pareceu surpreso com algo. pegou um telefone imaginario e "ligou" para alguem. chegando nesse lugar (que então descobri que se tratava de um restaurante) ele se encontrou com a pessoa do telefonema. descobri que se tratava de um relacionamento afetivo imaginario que ele estava tendo. ele agia como se a mulher (ao menos eu suponho que seja do sexo feminino) estivesse na sua frente (seu olhar é vazio e não tem nenhum centro de atenção definido). eles então se sentaram em uma mesa imaginaria e pediram comida e ele ficou conversando.
eu me perguntei se deveria traze-lo comida, mas como parte de teste preliminares resolvi não trazer nada e ver como ele reagia. depois de ficar quase 40 minutos conversando com sua(seu) namorada(o) ele começou a reclamar que estava com fome e, em uma de suas ilusões, agiu como se houvesse realmente chegado a comida. 'é agora' eu pensei. para meu espanto, ele começou a roer a mesa em frente à ele.
com medo de que ele pudesse se machucar, sai em direção à seu leito e entrei na sala. quando cheguei, sua boca estava sangrando e coberta de farpas. ele ao me ver sorriu e (aparentemente não me reconhecendo como seu "tio") me pediu, e eu cito, que 'falasse para o chef como aquele caviar era provavelmente o melhor que ele já havia comido na vida dele'. eu apenas agradeci o elogio e me retirei da sala.
eu não podia deixar ele e aquela boca dele naquele estado. pedi para uma des enfermeiras me trazer um acalmante numa seringa. e em um momento em que ele estava de costas aparentando dirigir um carro, silenciosamente me aproximei e injetei o calmante. ele então cambaleou um pouco, foi em direção a cama, e se deitou como se estivesse indo dormir em uma dia normal.

esse caso é muito mais sério do que eu imaginava.

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quarta-feira, 19 de maio de 2010

Life sucks, and then you die - Parte I

Favor ler o texto anterior antes de ler esse.

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mais um dia. mas um maldito dia. não que eu ache que a vida é uma merda, realmente não, mas eu digo que ela é um saco. como diria The Fools 'Life Sucks, And Then You Die'. mas eu não tenho nenhum desejo suicida, acho que terminar a propria vida é uma atitude muito, para não dizer emo, de frufru. logo, não querendo ser mais um dos cortadores de pulso, eu vivo de acordo com a musica. life sucks and then you die. essa eu considero uma bela frase. uma verdade até certo ponto. todo dia minha rotina é a mesma. todo dia durmo no mesmo horário, acordo no mesmo horário, me arrumo da mesma forma, vou para o colégio da mesma forma, passo o dia da mesma forma e vou dormir da mesma forma, no mesmo horário. confesso que a maior variação que ocorre no meu dia-a-dia é a mudança de horários da aula. que animador.
honestamente eu achava que as coisas iam mudar. nunca fui de ter muitos amigos, não me dou bem com pessoas, e honestamente não me importo. mas eu tinha esperança, sabe? eu achava que depois que a escola acabasse e eu finalmente fosse pra universidade o mundo seria um lugar melhor, e eu marquei a entrada na universidade como o momento de mudança da minha vida. com tudo planejado, estudei, estudei como um puto (não que eu ache que putos(as) estudem muito, é apenas uma expressão). no dia, tudo pronto, preparado, alimentado, estava pronto para fazer a prova.
uma das coisas que eu mais considero que foi uma falta de azar foi ele ser da minha sala. aquele menino loiro desgraçado que tem um serio problema de superioridade. não há um motivo explicito, como eu rapidamente percebi, ele apenas criou o objetivo na vida de ser o cara mais filho da puta possível. sempre tentei dar o mínimo de atenção à ele, talvez assim ele fosse embora, mas não, ele tem que testar limites, tem que ver até onde eu vou. filho da puta.
no dia da prova entrei na sala, pronto para fazer aquela prova e me livrar de tudo, partir para uma nova vida, mas, assim como diz a musica, life sucks. ele era da minha sala. ELE! no momento em que eu entrei na sala eu senti que ele percebeu minha presença. quase como um leão farejando sua presa, ele lentamente se virou em minha direção, e no momento que nossos olhares se encontraram ele deu um sorriso. um sorriso de um leão prestes a se alimentar.
eu empalideci na hora. como era possível?! o que eu fiz de ruim na minha vida pra eu merecer algo assim? OQUE? ele veio devagar, sem pressa, sabendo que eu não ia a lugar nenhum. fez questão de ficar incrívelmente perto de mim e olhar pra baixo (maldita genética). senti seu bafo nauseante enquanto ele falava. nem cheguei a prestar atenção no que ele falava. provavelmente nada do que ele estava falando iria melhorar em nada quem eu sou ou porque eu estou aqui, mas, na precaução resolvi prestar atenção no que ele falava. olhei pra cima, e, para minha total e completa surpresa, ele sorria. não o sorriso de leão, um sorriso... humano?! ele perguntava como eu estava, se eu estava pronto pra prova. dei apenas respostas monossilábicas. no final ele apenas sorriu novamente e me deu uma abraço. UM ABRAÇO! eu não espero que você acredite, eu pessoalmente não acreditei. mas então ele me desejou boa prova e foi para seu lugar que era do lado do meu. ainda abismado fui para meu lugar e me sentei. acabou que o dia havia começado melhor do que eu imaginava. 'quem sabe hoje realmente marca um dia de mudança na minha vida' pensei.
o fiscal então entregou as provas. recebi a minha otimista, havia estudado como nunca, então estava bem confiante. comecei a prova, a maioria das questões era bastante fácil e eu respondi rapidamente, já na metade da prova começou a parte de exatas, que era a parte que valia um maior peso pra meu curso, e a mais importante. 'ok' pensei 'vamos lá'. fui então tentar pegar minha calculadora no meu bolso direito. não estava lá. 'talvez o esquerdo?'. nada. 'caralho, cadê minha calculadora?!' pensei. já em desespero, comecei a procurar em todos os cantos. em baixo da mesa, da cadeira, nos bolsos da calça. nada. mas eu jurava que eu estava com ela. foi quando ouvi um 'pss' vindo do meu lado, e lá estava ele. o menino loiro balançando minha calculadora e olhando para mim com um sorriso. agora não mais o sorriso humano, o leão havia voltado, e dessa vez ele já estava com o sangue nos dentes.
eu fiquei completamente sem reação, já que basicamente eu literalmente não tinha o que fazer. não podia chamar o fiscal porque ele não acreditaria e material não pode ser emprestado. não podia saltar em cima dele porque não daria em nada, e eu levaria um boa surra. olhei para ele com um olhar de morte, um olhar que eu nem sabia que era capaz de fazer. o olhar de que você não deseja só a morte da pessoa, você deseja o sofrimento eterno.
e ele se divertia como sempre. olhava pra mim se contendo para não rir da minha cara. quando escapou um sorrisinho ele se conteve e voltou a prestar atenção na prova. fiquei encarando-o por uns bons 15 minutos. o fiscal então começou a estranhar e voltei minha atenção para a prova. cada calculo mais difícil que o outro. números com 6 casas decimais me encaravam quase que me desafiando. 'como diabos eu vou fazer isso sem calculadora PORRA?!!' pensei. tentei respirar fundo, contar até dez.
1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10.
o relógio ia passando enquanto eu me matava para fazer cada questão boba. a cada batida do relógio eu ficava mais desesperado.
o fiscal então anunciou que faltavam apenas 15 minutos e que quem havia terminado podia sair. 'como assim 15 minutos?! não.' pensei em desespero 'eu ainda tenho quase 1/4 da prova pra fazer, não dá tempo!'. já que não dava, fui tentar chutar todas as questões, estava começando a pensar quando lembrei que, poxa vida, ainda não havia passado as respostas pro cartão.
comecei a suar frio e a tremer. 'e agora? o que eu faço?!'. e, como era de se esperar, Ele resolveu por a cereja no bolo.
enquanto o fiscal se distraia recebendo as provas, o menino loiro veio do meio lado e cochichou no meu ouvido 'acho que você vai precisar disso', colocou a calculadora gentilmente em cima da minha mesa e saiu me dando um tapinha nas costas.
a raiva me consumiu, joguei minha mesa para o lado e saltei nas costas dele. com a vantagem da surpresa consegui acertá-lo umas boas vezes antes dele tomar o jeito. ai eu tava fudido. ele me segurou e me jogou na parede me dando um soco assustadoramente forte na minha boca do estômago. provavelmente eu só sai inteiro daquela sala porque o fiscal rapidamente se pôs no meio da briga e nos levou para uma outra sala.
por culpa do soco eu não conseguia respirar direito. na sala para onde fomos levados, nos mandaram sentar de um lado de uma mesa. eu ainda tremia de raiva quando um homem de terno entrou na sala e se sentou na nossa frente. ele explicou que, por causa de nossa "brincadeirinha" nossas provas seriam anuladas. eu não me importei, eu não entraria de qualquer jeito, mas o menino loiro se importou, até bastante, e começou a gritar com o homem engravatado. falava que era um absurdo, que a culpa não era dele, que eu havia começado tudo e mimimi. quando ele começou a mostrar sinais de agressividade, o homem de terno chamou um segurança que nos arrastou para fora do colégio onde estávamos fazendo a prova.
eu olhei para ele com um sorriso de felicidade, afinal ele havia me feito perder a prova, e eu havia feito ele perder a dele. ele se virou para mim. eu vi a cara de raiva dele. ele viu meu sorriso. eu vi o punho dele na minha cara.

acho que nunca na minha vida eu apanhei tanto. nem tenho muitas memórias da "briga" em si, apenas lembro de acordar no hospital. minha perna estava engessada, minha cabeça enfaixada e meu corpo inteiro roxo. senti algo estranho no meu rosto e quando toquei percebi que havia um ponto enorme fechando uma cicatriz que pegava boa parte da minha maça do rosto. cada movimento doía.
o medico entrou e olhou minha ficha, depois olhou para mim. 'pegaram pesado em você, não meu filho?'. odeio que me chamem de "meu filho". respondi com uma pergunta 'o que houve com ele?'. 'ele quem?'. 'o cara que "pegou pesado em mim"?'. 'chamaram a policia pouco depois que a comoção começou, conseguiram parar ele a tempo de você ter seqüelas mais sérias'. 'ele onde ele está agora'. 'eu não sei direito, ouvi uns policiais comentando que ele havia pagado a fiança, mas não sei se é isso mesmo'. fiquei em silencio. o que havia para se dizer?. reclamar que ele conseguiu escapar?. isso eu sabia que ia acontecer. então não fiz nada. o medico percebeu que eu não tinha nada mais a falar e desculpou sua saída falando alguma baboseira que tinha que ajudar uma mãe que o filho tinha perdido a memória ou algo assim. continuei não falando nada.
meus pais nunca se importaram muito com a minha situação, tanto fisica quanto emocional. eles tinha a idéia de que a escola que iria me criar, então enquanto eles pagassem-na, eu estava ótimo. não me impressionei ao chegar em casa, meu pai me ver como eu estava, e perguntar, apenas por protocolo, o que havia acontecido comigo. disse a desculpa mais clichê possível tentando ver se ele se importava um pouco dizendo que havia "caido das escadas". ele apenas me disse para tomar mais cuidado e voltou a ler o jornal. típico pai.
durante o resto das ferias eu fiquei basicamente em silencio. apenas dizia frases protocolares pro meu pai/mãe como bom dia e afins.
perto do final das ferias, depois de um longo banho me olhei no espelho. minha perna ja estava melhor e funcionava tão bem quanto antes, meus hematomas já estavam quase todos ausentes. eu já estava, pode se dizer, perfeito. se não por uma coisa. a cicatriz. ela me encarava toda vez que eu me olhava no espelho. um lembrete no mínimo. todo dia comecei a então me olhar no espelho e me lembrar.
mas um dia eu comecei a perceber o que estava acontecendo comigo, eu estava me tornando obcecado, ficando louco com a idéia de vingança, e isso não estava dando certo. resolvi então que, mesmo eu não tendo passado para a universidade, eu iria começar a mudar minha vida. arrumei meu cabelo, comprei roupas novas, me arrumei completamente para o primeiro dia de aula do cursinho.
ônibus nunca me deixam feliz. eles são no geral sujos e lotados, mas naquele dia, com o otimismo vindo de todos meus poros, nem isso me irritava. esse seria um novo dia. o primeiro dia de vida do novo eu.
sai do ônibus desejando bom dia para a velhinha mau humorada do meu lado e andei em direção ao cursinho. cheguei na sala, escolhi um bom lugar e me sentei, pronto para começar um novo capitulo em minha história.
como eu havia chegado bastante cedo, comecei a ler um livro. nunca fui de ler livros, mas o eu 2.0 achava-os o máximo, mesmo só tendo livro os livros imbecis da escola. perto da pagina 20, senti uma mão no meu ombro. nem precisei me virar para sentir aquele cheiro. o cheiro do leão. e lá estava ele, o menino loiro olhando para mim com um sorriso obviamente falso. suspeitei que ele tramava alguma coisa, porque mais ele estaria sorrindo assim? foi quando olhei pro lado e vi ela.
nunca me apaixonei, sempre achei isso uma coisa de filmes de menininha. tentei sempre consolidar em minha mente a idéia de que algum dia eu iria me dividir por mitose e surgiria um filho meu. mas aquele momento me provou o contrario.
era provavelmente o ser mais lindo da face da terra. cabelos lindos, pele perfeita, olhos azuis. enfim, a mulher ideal.
amor a primeira vista? não sei, mas ela definitivamente tomou minha atenção.
o menino do cabelo loiro começou a forçar comigo da mesma maneira que forçou no dia da prova. mas eu não fiquei irritando, comecei a babar e tentei arrancar a garganta dele no dente. não. eu só conseguia olhar para ela. ele percebeu e a trouxe para perto e nos apresentou. me movi muito mecanicamente enquanto nos aproximávamos para dar o tradicional beijinho de cumprimento e senti provavelmente o cheiro que nunca vou esquecer. ele então se despediu e começou a ir embora com ela. fiquei encarando-a enquanto os dois se afastavam e ele percebeu. avisou para ela que ia falar comigo "rapidão" e já voltava. ele veio então bem perto de mim e da mesma maneira que no dia da prova cochichou em meu ouvido 'bonita ela né?'. me limitei a simplesmente concordar com a cabeça. 'então, ao menos pense em chegar perto dela, só pense, que eu vou te dar muitas dessas cicatrizes ai desse seu rostinho' e me deu um tapinha dolorido na minha cicatriz, se despediu com um sorriso e voltou para ela.
fiquei paralisado enquanto eles iam para seus lugares.
não consegui prestar atenção em nenhuma aula no resto do dia. eu apenas fiquei me perguntando porque. porque, justamente quando eu estou pronto para fazer a mudança na minha vida ISSO acontece?! PORQUE?! eu não entendo. não entendo mesmo.
no final da aula levantei devagar, todo mundo ja havia saido da sala. fui, sem pressa em direção ao portão de saída, subi as escadas e dei de cara com os dois. eles apenas conversavam. ele percebeu que eu os encarava e começou a se pegar com ela. mas não se pegar namoradinhos de 12 anos. não. começaram a se pegar como animais. ele não se importava o quão publico era o lugar onde eles estavam, mas se dava ao trabalho de tentar tocar ela por completo. e ela deixava.
fiquei olhando essa cena. quando ele percebeu que já tinha feito deu ponto, eles se separaram do corpo único que haviam formado e foram em direção ao carro de filhinho de papai dele. ele se virou e se limitou a dar uma piscadela para mim enquanto colocava a mão na bunda dela.
eu não tinha palavras.
eu não tinha pensamentos.
decidi não pegar o ônibus para casa, não aquela coisa suja e nojenta, fui andando.
o caminho era gigantesco, eu sabia, mas não me importava.
fui quieto, sem nenhum pensamento na minha mente. esvaziei-a por completo com medo que se eu realmente fosse pensar no que havia acabado de acontecer algo daria muito errado. então assim eu fui. no silencio, no vazio e na solidão.
algo tomou minha atenção, barulho de sirenes de policia vinham de todas as direções e supus que algo estivesse acontecendo. olhei para os lados e não vi nada, quando me virei um homem correndo esbarrou forte comigo. fui jogado à distancia me ralando pouco. do lugar onde eu estava eu pude ver toda a comoção que acontecia. o homem estava caido no chão com um olhar vazio como se procurando algo dentro de si mesmo. a policia apareceu gritando e apontando armas para ele falando para ele soltar a que ele (assim como eu fui perceber só naquele momento) estava segurando. o homem parecia perdido (ou como se tivesse perdido algo), e, para minha surpresa e espanto, ele se limitou a simplesmente colocar a arma na boca dele e atirar.
sangue voou para todo o lado, eu fiquei imóvel olhando toda a cena acontecer. 'o que diabos acabou de acontecer?!' me perguntei. 'apenas a ordem natural das coisas' uma voz desconhecida me respondeu. isso me pegou de surpresa. havia alguém perto de mim? olhei em todas as direções. nada. 'levante e saia daí' disse a voz. num primeiro momento eu fiquei aterrorizado ao perceber que a voz vinha da minha cabeça, mas ela me acalmou. não foi difícil. ela era tão bonita, tão macia, tão...


perfeita.



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Iago Schütte

domingo, 16 de maio de 2010

Amnesiac

Acordei. eu sentia como se eu literalmente não tivesse forças pra viver, o que é uma pessima sensação. esta tudo incrívelmente absurdamente claro e branco. não sei quem foi a péssima alma que teve a idéia de fazer um lugar que tende a ficar incrivelmente claro e pintá-lo todo de branco, isso não se combina. mas enfim, eu tinha coisas mais importantes com o que me importar no momento (haha, adoro essas situações de palavras iguais. caham.). primeiro, onde estou? bem, obviamente estou no lugar mais claro da terra, mas isso não exatamente me ajuda. próxima pergunta. o que estou fazendo aqui? bem, até onde eu vejo eu estava dormindo, e um sono bem profundo vale a pena acrescentar, sentia como se minhas pernas ou braços não houvesse sido mexidos a um longo longo tempo. bom, ainda não respondeu muita coisa, mas melhor que a resposta do lugar branco. bem, o que mais me perguntar? na minha situação de cegado pela luz e atordoado e fraco, não tem muito o que eu possa me perguntar com relação ao exterior. então vamos começar pelas perguntas básicas, fáceis de se responder. comecei a me perguntar, e pergunta após pergunta eu simplesmente não conseguia responder. comecei a entrar em pânico. onde eu moro? não sei. qual é o meu nome? não sei. de onde eu vim? não sei. ... . quem sou eu?
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não havia nenhum som. ninguém falava nada. não era um daqueles momentos em que se coloca uma boa musica e se dança comemorando a boa colheita. era um daqueles momentos em que, simplesmente, não havia o que se dizer. minha mãe dirigia o carro segundo o volante hora com uma rigidez incrível, outra quase que o soltando, o que honestamente me preocupava. se fosse pra eu morrer que não fosse num acidente horrendo de carro.
silencio.
olhei pra minha mãe e tentei decifrar a(s) emoção(ões) que se passavam em seu rosto. ela estava em um momento com uma cara de raiva como se fosse espancar o próximo coitado que passasse na frente dela, ao mesmo tempo que uma corrente de lágrimas escorria por seu rosto.
silêncio.
sim não era uma situação pra se bater um papo sobre futebol ou contar uma piada, mas eu não aguentava mais aquele silencio e eu sentia que se eu não falasse algo logo minha mãe abriria a porta e se jogaria do carro.
comecei a tentar abrir uma comunicação. 'mãe, eu...'. 'não filho! não... não...'. 'mas mãe, eu acho que a gente...'. 'filho... só... não...'. e ficou por isso mesmo. ela se controlava para manter o olho na estrada, mas toda vez que paravamos em um sinal ela abaixava a cabeça e chorava.
durante todo o percurso de volta pra casa do hospital eu não falei mais nada. achei que era pra melhor.
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pouco a pouco eu consegui me adaptar à luz absurda daquele lugar e as coisas passaram de borradas para levemente definidas. estava deitado de costas olhando pra cima. tentei levantar minha cabeça pra encontrar meu queixo no meu peito mas não tinha energia nem para isso. fiz o esforço de então olhar para os lados. a minha esquerda havia em cima de uma estante uma cesta com vários balões presos a uma cesta com varias coisas que não conseguia identificar já que minha vista continuava borrada. voltei minha cabeça pra cima e tentei fechar os olhos para tentar novamente refletir sobre o que diabos estava acontecendo. quem sou eu? não sei. quemsoueu? não sei. QUEM SOU EU?... não sei...
percebi então que estava com sede, muita sede. nesse momento ouvi passos ao meu lado. abri os olhos e virei minha cabeça. uma mulher com uma roupa rosa estava do meu lado mexendo em umas gavetas. juntei o máximo de forças que eu pude e falei 'água...'. minha voz saiu incrivelmente fraca, tanto que fiquei surpreso quando a mulher se virou e pareceu surpresa ao me ver. não entendi porque. pedi novamente agua. ela, agitada, começou a olhar as telas que só então percebi que estavam a toda a minha volta, olhou pra mim, me pediu para esperar e saiu correndo da sala. continuei parado, olhando pra cima. não estava conseguindo pensar, só tinha em mente o fato de que eu realmente estava com muita sede.
comecei a ouvir uma agitação e quando olhei um cara vestido completamente de branco estava entrando na sala acompanhado da mulher de rosa e de uma outra vestida com uma roupa normal jeans e camiseta.
o medico chegou ao meu lado e, assim como a mulher de rosa, começou a olhar as telas enquanto a mulher de rosa me dava agua. bebi alegre. era mais difícil engolir do que eu imaginava, mas deu certo. depois de tomar até a ultima gota a mulher de jeans veio rapidamente até mim e começou a me abraçar. o abraço era realmente forte. ela então me soltou e começou a me olhar e a falar como era um milagre eu estar vivo, que ela me amava, que ela nunca perdeu a fé, que ela sempre soube que tudo daria certo e me abraçou de novo. dessa vez mais forte. depois ela me soltou e me olhou nos olhos. eu só tive forças para perguntar 'quem é você?'.
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chegamos em casa. nenhuma palavra. saímos do carro. nenhuma palavra. subimos o elevador, entramos em casa. também nenhuma palavra. quando já dentro de casa, depois de fecharmos a porta, minha mãe pulou em cima de mim, me abraçou forte e começou a chorar. eu simplesmente a abracei de volta e ficamos assim por um longo tempo.
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'o que você disse?' a mulher me perguntou. eu juntei forças e disse outra vez 'quem é você?'. ela ficou pálida e continuou me encarando por alguns segundos quando percebi que ela estava chorando. ela ficou de pé rapidamente e saiu da sala. o medico saiu atrás dela enquanto a enfermeira continuava lendo uma prancheta. olhando para a direita havia um vidro que permitia ver o lado de fora da sala. vi a mulher e o medico. a mulher chorava de cara para uma parede com as mãos encolhidas no rosto enquanto o medico tentava acalma-la. como gastava muito da minha pouca energia ficar acordado vendo essa situação toda, simplesmente ignorei tudo e voltei a dormir
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eu estava tão preocupado quando ela, é claro, mas eu tentava manter a calma, sempre me considerei uma pessoa otimista que tenta manter o bom astral na situações mais adversas. depois de um bom tempo abraçado com minha mãe, guiei-a até o sofá onde sentamos um ao lado do outro. tentei conforta-la falando que ia dar tudo certo e ela me indagou 'como você pode ser tão otimista numa situação dessas?!'. 'eu simplesmente sei que ficar sofrendo não resolve nada' eu respondi. 'mas filho....' ela respondeu 'você ouviu o que o doutor disse! como você consegue ficar... feliz?!'. respirei fundo e comecei minha resposta 'eu não estou feliz mãe. ninguém em sã consciência ficaria feliz numa hora dessas. eu apenas não estou triste.'. 'filho, o médico disse que você pode muito bem daqui a duas semanas ter um derrame e entrar num coma ou ,pior ainda, morrer, e você não fica triste?!'. 'honestamente mãe. eu não fico. porque eu não tenho porque ficar triste. eu aproveitei bem a minha vida. não me arrependo de nada que fiz. aproveitei o que tive para aproveitar'
tentei um sorriso otimista, mas minha mãe simplesmente me abraçou novamente e voltou a chorar.
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Ta tarde, depois eu dou um jeito de terminar. boa noite.


Iago Schhütte - feels like spinning plates

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Cosmo-agonia Parte 1

era um dia normal no nada. o nada fazia nada. e o resto do nada também continuava em uma inércia completa. nada.
do nada surgiu algo, esse algo fez um barulho fudido, na verdade eu não sei se voce poderia dizer que houve um barulho, tanto porque som não se propaga pelo nada, e tambem pelo simples fato de que não havia ninguém ali que pudesse falar 'uau, mas esse foi realmente um som alto. macacos me mordam'. mas dizem as más linguas que foi um barulho fudido, e na falta de qualquer evidencia do contrario, diremos que houve, no final de contas, um puta de um barulho.
depois do barulho, veio o silencio. os primeiros vestígios do algo começaram a ocupar o lugar que o nada antes ocupava e a juntar ali coisas cada vez maiores. o nada, obviamente não gostou, mas não havia nada que o nada pudesse fazer. e se voce for pensar bem, se não havia nada, não tem como o nada ter perdido algo, ja que literalmente não havia algo. após chegar a essa conclusão acalmante o nada foi para a sala e pegou sua xicara de nada e tomou um chá inexistente.
enquanto o nada se exaltava com seu magnifico chá de nada, o algo estava ativo, se empolgando cada vez mais. pegava uma nuvem de algos aqui, juntava com uma grande bola de algos dali, e do nada (ou do algo, não sei, sinonimos me fogem) os algos entravam em chamas e ficaram mais claros que, bem, não se sabe, era primeira vez que algo brilhava como aquilo desde que o algo surgiu fazendo um tremendo barulho (ou não).
em volta das bolas brilhantes de algos começaram a se formarem nuvens de algos. os algo nas nuvens começaram a se juntar. quanto mais algos ficavam juntos, mais algos queriam se juntar ao grupo. e aos poucos foi se formando um grande algo, não tão grande quanto o grande algo brilhante, mas um algo bonito.
ok, a verdade seja dita, essa bolinha de algos era uma absurdamente, estonteante, assustadoramente e imensamente inutil e desprezivel bolinha. incandescente, malfeita e sem graça. mas bem, o algo resolveu continuar seu trabalho, e depois de decepcionado com a bolinha inutil, resolveu fazer algos mais maravilhosos ainda, mais gigantescos que a grande bola gigante brilhante de antes. mais brilhante que o brilho da grande bola brilhante. o algo basicamente se entreteu se superando.
e assim, devagar e sempre o tempo passou e, em meio ao belo trabalho feito pelo algo, aquela bolinha inutil perto da agora insignificante bola brilhante começou a ficar diferente, o que atraiu a atenção do algo. a bolinha agora não era mais uma grande coisa incandescente, era uma grande poça d'agua, com um pouco de terra aqui e ali. o algo ficou abismado com o twist que houve naquela historia. 'quem imaginaria que isso viria a acontecer?' peguntou o algo para o nada (no sentido de nada nada mesmo, e não o nada do nada de antes do algo, capisce?). mas então o algo sentiu algo estranho da superfície da bolinha, uma presença que ele não sabia explicar direito, mas ele foi se aproximando, se aproximando, cada vez mais até ficar quase dentro da agua, vendo tudo em seus minimos detalhes. não havia nada, apenas agua. 'uau, que surpresa' pensou o algo quando prestes a sair da agua algo tomou sua atenção. algo minusculo, quase imperceptivel, nadando em meio as turbulentas aguas do planeta bolinha.
o algo foi então examinar de perto a coisinha.
era interessante. ou nem tanto. mas era fascinante no minimo. era basicamente uma bexiga com um monte de coisas dentro.
a coisinha rodava, piruteava, flopava, uilomeava, tudo em uma imensa diversão, como se estivesse acabado de aprender a, bem, 'ser'.

'haha', pensou o algo, 'isso vai ser divertido'

quarta-feira, 14 de abril de 2010

death and all his friends

num súbito baque acordei. pelo susto de simplesmente ter acordado depois de tanto tempo inconsciente comecei a tentar olhar em todas as direções ao mesmo tempo, o que, obviamente, não deu certo. e um dos principais motivos por não ter dado certo foi porque a luminosidade era tão absurda que eu senti minha retina pedindo desculpa por qualquer coisa que ela pudesse ter feito. gentilmente acalmei-a, falando que ela era uma boa retina e dando-a um biscoito imaginário. minha íris, querendo também um agrado, fez a gentileza de, talvez devagar demais, se contrair. lentamente eu consegui ver tudo certo. o lugar em que eu estava era relativamente chato. imagine uma grande sala de espera de aeroporto, onde não há absolutamente nada para se fazer, mas o barulho é tão grande que você não consegue ouvir sua musica. (para minha surpresa fui perceber que meu iPod que estava comigo agora a pouco havia sumido). pela janela não havia nada para se ver, só o forte clarão.

o lugar em si era absurdamente gigantesco, era tão grande mais tão grande, que... na falta de uma metáfora melhor... parecia um... que dava pra... esquece, era grande. era basicamente composto por cadeiras e mais cadeiras onde pessoas e mais pessoas estavam sentadas. algumas conversando, algumas tentando dormir, e outras simplesmente assustadas por algum motivo. não havia nenhum lugar disponível então resolvi dar uma volta. por toda volta haviam lojas de duty free fechadas com uma placa na frente dizendo 'volto em 5 minutos', mas pela quantidade de poeira nas portas, suponho que o vendedor tenha se perdido entre as fileiras 23² e 24².

por todo lado haviam vários daqueles telões que mostram os vôos chegando. interessantemente, haviam uns azuis e uns vermelhos. sem aparecer nada. fiquei encarando os telões esperando algo acontecer, mas em como toda boa situações cômica, nada aconteceu. simplesmente me virei, apenas para perceber que varias outras pessoas estavam fazendo o mesmo. simplesmente paradas, encarando a tela. em algumas dava para perceber que lagrimas escorrendo dos olhos de tanto tempo que eles estavam abertos. resolvi perguntar para uma simpática senhora o que diabos era aquele lugar. com toda a educação que minha mãe muito bem me ensinou, dei um leve toque no ombro da senhora. na ausência de uma reação, fiz o mesmo novamente. nada. resolvi chamá-la 'com licença senhora.'. nada. 'oi?' falei enquanto novamente dava um toque no ombro dela. nada. ‘huh...’ pensei. tentei mas uma vez, com um toque levemente mais forte 'comlicençasenhoraporacasoasenhorasaberiaoqueéesselugar?'. para minha surpresa, a senhora se virou à uma velocidade impressionante para alguém que, na minha noção, deveria ter algo perto de 160 anos de idade (mas eu posso estar errado.). 'o senhor não esta vendo que eu estou vendo o telão?!'. eu percebi de leve ela falando com a boca 'porra', mas eu nunca fui bom em leitura labial, então relevei.

assustado com a súbita reação da companheira, desisti e fui dar mais uma volta. encontrei outro grupo de pessoas reunidas em volta de um telão, curiosamente elas haviam arranjado cadeiras em algum canto e estavam todas quase que roendo as unhas de expectativas. me reuni perto delas e, não sei porque, resolvi ficar vendo o telão. para futuras referencias direi que fui ver o telão por peer pressure.

aparentemente me absorvi na observação do aparentemente inútil telão, porque senti que as coisas haviam mudado um pouco. a velha tinha sumido por sinal. de qualquer forma, o meu grupo de pessoas as coisas não havia mudado. nesse meu breve momento de consciência resolvi dar mas uma volta, quando derrepente o telão azul começou a apitar. todos a minha volta começaram a tremer de expectativa. por alguma razão me senti empolgado também e resolvi gritar com empolgação. por mais que meu grito tenha saído surpreendentemente desafinado, ninguém pareceu notar. o foco das atenções no momento era o telão. depois de uma serie de apitos irritantes, o telão mostrou um nome em azul. no meio do conglomerado de pessoas um homem começou a comemorar e a pular. era um ser meio estranho, provavelmente em seus 60 anos, praticamente careca mas com pequenos fios desconexos na cabeça. pele enrugada e todas as características básicas de uma pessoa velha. por sinal, a maioria das pessoas lá eram velhos, poucos tinha menos de 50 anos. mas aquele velhinho tinha uma disposição impressionante, pulava, comemorava, dançava, beijou uma outra velha que rapidamente o deu um tapa na cara, mas em meio a seu surto de felicidade ele nem reparou.

ele então começou a andar em direção a uma porta azul que por algum motivo não havia reparado antes. na porta havia um homem vestido com um elegante terno branco, óculos escuros, e com um cabelo curto arrepiado. o velho chegou para o homem e disse algo. o homem apenas confirmou com a cabeça e a porta se abriu. uma luz absurdamente forte saiu da porta. quando eu consegui finalmente acalmar minha retina, a porta já havia fechado e todas as pessoas à minha volta haviam voltado ao estado de concentração. na falta do que fazer comecei a encara o telão novamente. e mais uma vez o tempo resolveu dar um pulo, e quando percebi já se haviam passado varias horas quando voltei à realidade com um barulho de órgão que parecia vir de lugar nenhum. todos começaram a quase que tremer de medo, perto dali uma velhinha desmaiou, mas todos estavam tão ocupados e preocupados com a musica que ninguém se deu ao trabalho, ou ao menos pensou, em segurar a velhinha.

na minha frente, o telão vermelho começou a piscar, e à cada flash a tensão aumentava e a musica aumentava, quando derrepende um nome surgiu na tela. no fundo da multidão escutei um grito de um homem.

quase como em uma cena de filme, a multidão foi se separando para dar visão a um homem interessante. devia ter algo em torno de 30 anos, completamente careca, e com um olhar relativamente inocente. começou a olhar em volta em desespero. do meu ponto de vista, pude ver de cada lado da multidão, dois homens vestidos de preto começavam a abrir caminho pelo povo em direção ao homem careca. antes que o careca pudesse ter qualquer reação os homens de preto saltaram da multidão e o agarraram, um em cada braço. o homem careca começou a se debater com toda força que tinha, e aparentemente era muita, era um dos caras com a aparência mais forte que eu já havia visto, mas os homens de preto nem pareciam sentir. foram em direção à uma porta vermelha e pararam na frente dela. falaram algo com o homem de terno preto na porta, que concordou e abriu a porta. não era possível ver nada por trás da porta, era um negro tão negro, que por um momento achei que minha retina tivesse resolvido dar umas ferias. tão rápido quando com o velho a porta se fechou, e assim como com o velho, quando me virei, todos haviam voltado ao estado de concentração.

assim também como depois do velho voltei minha atenção ao telão. da mesma forma que depois do velho, o tempo passou incrivelmente rápido. não como depois do velho, um apito começou a vir do telão azul. assim como antes do velho, as pessoas começaram um frenesi de expectativa. fiquei esperando o desfecho do apito, para o processo começar todo de novo quando, para minha surpresa, meu nome apareceu.

as pessoas à minha volta começaram a olhar em volta procurando o dono do nome e aparentemente estranhando a falta de uma reação. quando percebi que buscavam o dono do nome, timidamente levantei a mão. todos começaram então a me aplaudir. estranhei imediatamente, mas, para manter as aparências, comemorei também, imitando o velho (sem a parte do beijar a velha) e fui em direção à porta azul.

lá, o homem de terno branco me cumprimentou com um sorriso e me parabenizou. agradeci, assim como minha mãe me ensinou, e, delicadamente, perguntei o porque dele estar me congratulando. me dando um susto, o homem do terno branco começou a rir, muito alto por sinal. depois de um incomodante tempo de risadas, ele se recompôs e me perguntou se estava brincando, disse que não, ele me perguntou se eu estava falando serio, eu disse que sim. ele começou a rir de novo. esperei pacientemente o fim das risadas. ele então se virou para mim e perguntou se eu sabia aonde estava. eu disse que não. ele me perguntou se eu sabia como havia parado ali. eu disse que não. ele me perguntou se eu me lembro de algo antes de ter ido parar ali. contei que estava atrasado para uma prova, e estava atravessando a rua quando do nada apareci aqui. ele me perguntou se eu sabia o que havia acontecido na rua. eu disse que não. ele me pediu para olhar minhas roupas. só então fui perceber meu estado. minhas roupas estava completamente rasgadas, sujas, e não só meu iPod havia sumido, como minha mochila também. e meu casaco. perguntei para o gentil moço onde estava minha mochila e contei que se chegasse em casa sem a minha mochila minha mãe me matava. o homem falou que isso não importava. eu expliquei gentilmente ao companheiro que importava sim e que a minha mãe quando brava era perigosa. o homem começou a me explicar o porque que não importava, mas o interrompi para contar de uma vez que eu perdi meu celular e ela me privou de saídas por uma semana, e também expliquei como isso foi um absurdo e como interferiu em minha vida social. o cara começou a tentar explicar de novo qua... e sem contar que eu tava quase para conseguir conquistar uma menina que a meses eu estava afim, e isso ferrou tudo. o moço gentilmente me mandou calar a boca e calmamente me explicou, com perturbadores detalhes, a maneira com a qual ele me chutaria até a porta vermelha. lembrando da reação do homem careca, parei de falar e fui ouvir o cara de terno branco. ele começou me perguntando se a grande alternância presente naquele lugar entre azul e vermelho significava alguma coisa para mim. eu disse que não. ele me perguntou se a reação oposta entre as pessoas que iam para cada porta significava alguma coisa para mim. eu disse que não. ele me perguntou se eu tinha idéia de algo. neguei com a cabeça. ele respirou fundo, por um tempo mais longo do que eu julgaria normal para um ser humano e me olhou nos olhos. bem, na verdade eu não sei se ele me olhava nos olhos, visto que ele estava de óculos escuros, mas eu imagino que ele estivesse. ele me contou então que quando eu estava atravessando a rua, um ônibus me atingiu. não falei nada, ele continuou a me explicar que a batida foi bem forte. continuei não falando nada. ele me perguntou se, então, eu sabia que lugar era aquele e o que havia acontecido. silencio. ele então me explicou que eu havia morrido. 'sério?' perguntei. ele concordou. 'mesmo?'. idem. 'uau'. idem com a cabeça. perguntei para ele o que vinha agora. ele me explicou que, somando o que eu havia feito de bem na minha vida, dava maior que a soma de coisas ruins. agi como se houvesse entendido. ele fez um movimento como que me perguntando 'logo...?'. esperei que ele me explicasse o que vinha logo. 'logo, você vai pro céu' ele me disse. 'é mesmo?' perguntei. 'é' ele disse. 'massa...' eu falei. ele ia começar a mexer na tela de computador quando, apenas a mérito de curiosidade perguntei o que o céu tinha para me oferecer. ele, com uma lentidão na medida certa, levantou a cabeça da direção no monitor e novamente (acredito eu) me olhou nos olhos. 'o que?' ele me perguntou. 'não' eu disse 'é porque sempre falaram que esse céu era demais, que deixava o tal do inferno no chinelo, mais eu nunca soube o porque, então eu resolvi perguntar o que tem de tão bom nesse tal de céu afinal de contas'. consegui perceber a cara de supresa-raiva-decepção-confusão na cara dele, e devo citar que essa combinação ao mesmo tempo provoca um fenômeno interessante. ele começou a me explicar então o que era o céu: 'imagine tudo que tem de bom no mundo' ele disse 'tudo junto em um só lugar. isso é o céu'. 'mas,' eu perguntei 'o que é tudo de bom?'. 'como assim?'. 'ah, é porque isso é uma expressão tão vaga, meninas acham pôneis algo bom, eu não, logo o bom delas vai estar no meu bom?'. 'não, tudo de bom pra você vai estar lá'. 'tudo que eu considero bom agora?'. 'sim'. 'mas e se no futuro eu começar a achar algo bom? ai eu vou ficar sem ele porque ele não era bom no momento que eu cheguei?'. 'não'. 'sério?'. 'sim'. 'uau'. 'uhum'. 'legal esse céu, hein?'. 'é o melhor'. 'e o que eu faço agora?'. 'apenas passe por essa porta'. 'essa azul?'. 'sim'. 'tem como desligar a luz dela, é que...'. 'não'. ‘mesmo?'. 'não'. 'sabia que esse céu não podia ser tão bom assim' e comecei a andar em direção à porta. irritadamente o homem de terno branco apertou um botão na mesa e a porta se abriu. comecei a andar em direção à luz quando minha retina aparentemente pediu demissão por excesso de trabalho e tudo ficou preto.

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acordei tremendo. minha retina aparentemente havia voltado porque consegui ver a luz forte. uma sombra se sobrepôs entre mim e a fonte de luz. essa sombra tinha um certo formato humanóide, usava uma mascara, uma toca, e um jaleco com uma plaquinha escrita Dr. blah blah blah, não lembro. comecei a ouvir um beep constante. novamente ouvia pessoas comemorando e por um momento achei que estava de volta à sala de espera de aeroporto quando senti minha mãe me abraçando e chorando. ela dizia o quanto estava feliz e que achava que ia me perder e etc. o doutor veio então me perguntar se eu sabia meu nome, e esses procedimentos médicos, e eu estava muito bem na verdade.


alguns dias depois minha mãe veio me contar como era algo impressionante como eu havia sobrevivido um tempo surpreendentemente longo basicamente morto e que por algum motivo eu havia demorado mais do que o normal para passar dessa pra melhor. ia começar a contar a historia para minha mãe quando ela veio e me abraçou e decidi que era melhor deixar para depois

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na porta azul, o homem de terno branco olhava enquanto o garoto irritante ia, finalmente, em direção a porta quando derrepente ele sumiu. simples assim. o homem de branco ficou encarando surpreso a porta por um tempo. tirou os óculos, limpou-os com a manga do terno, colocou-os de volta e olhou outra vez. o garoto tinha realmente sumido. 'cada coisa que me acontece' pensou enquanto se virava para fechar a porta e atender uma alegre velhinha que vinha saltitando em sua direção.