quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Happiness is a warm gun

Foi realmente um momento incrivelmente divertido. não sei porque nunca fiz isso antes. na verdade, eu sei, é levemente obvio porque. mas céus, se eu soubesse antes o quão bom isso seria eu ja teria feito há eras atrás. tive a idéia do nada. minha situação não era a melhor. era um daqueles momentos que eu espero que ninguém nunca tenha que passar por na vida. um daqueles momentos de total falta de idéia de 'o que eu faço agora'. já tinha problemas o suficiente para me importar e parecia que a cada um deles que eu resolvia, outros três surgiam no lugar. em um momento de tédio extremo, eu cheguei a fazer um flow chart com os problemas e seus consequentes. ficou bonito. e grande, devo citar. mas bem, era uma daquelas situações em que você não tem mais para onde correr. tinha que arranjar dinheiro de alguma forma. a quem eu falei desse problema me disse que a melhor coisa a se fazer para resolver meu problema era vender tudo e ir morar em um lugar mais simples e de pouco em pouco me reerguer. outros me recomendaram um chocolate. achando que a primeira opção era levemente mais lógica, resolvi seguir com ela. pesquisei no mercado quanto que poderia ganhar vendendo minhas coisas. fiquei feliz ao descobrir que a minha casa valia um preço impressionantemente bom. ótimo. fui ver então quanto valiam os objetos da dita casa. a TV estava velha, não valia muito. certo. o computador também. sem problema. a geladeira consome muito. aham. o fogão vaza gás as vezes. ok. as roupas estão velhas. hmm. o som não lê CD. huh... o congelador não congela. ahh, isso explica... o chuveiro não esquenta e...
acho que meu ponto foi feito.
minha casa era pessima.
até onde consegui pensar com minha matemática minúscula, o preço das minhas coisas no mercado era desprezível se comparado ao da casa. o preço de levar essas coisas para a casa nova seria muito caro. ela era bem longe da minha casa. sério. com o dinheiro que eu tinha, eu tenho sorte de que ela ainda estivesse numa zona considerada urbana.
fazer o que? vendê-las? não valia o esforço. levá-las? idem. o que fazer então?
foi aí que me veio.
veio como um flash em minha mente e por um segundo foi a melhor idéia que eu tive em muito muito tempo.
mas vai ser difícil de limpar, vale a pena?, eu pensei.
não me importo, me respondi, eu limpo, vale a pena com certeza.
então certo. fui até a cozinha, abri o armário, peguei uma garrafa de whisky que tinha guardado para uma ocasião especial (não era exatamente uma situação assim que eu esperava, mas poderia ser), fui até a sala, me sentei na poltrona desgastada e coloquei um pouco do whisky em um copo com uma unica pedra de gelo. coloquei, mexi um pouco com meu próprio dedo e tomei em um gole só. era realmente muito bom, valeu a pena eu ter esperado. não achei que valia a pena desperdiçar tal deliciosa bebida e tomei mas uma dose. e outra. e outra. delicia. sentindo que já havia experimentado o suficiente e que se eu tomasse mais uma dose ou duas eu não conseguiria ficar em pé, me recompús e me levantei. virei todo o resto da bebida no chão. o cheiro do whisky se espalhou pela sala inteira. com a garrafa vazia, segurei-a pelo gargalo, tentei ficar o mais imóvel possível.
mirei a televisão e joguei.
a garrafa entrou de uma unica vez, sendo uma daquelas TVs de tubo, fez uma chuva de faíscas belíssima.
a consciência me bateu mais forte. será que eu deveria realmente fazer isso? convenhamos seria uma bagunça homérica e não sou exatamente o maior amante da limpeza. fiquei parado por uns bons minutos. olhei para a TV destruída e para o whisky derramado e pensei que realmente não valia a pena. fui à cozinha, peguei um pano e voltei para limpar o whisky. 'belo desperdício' pensei. com o pano no rodo, comecei a limpar o chão, quando, por um não raro desastre meu, derrubei um vaso no chão também. fui me virar para ver o tamanho do estrago e o cabo do rodo que eu segurava derrubou um vaso da estante. cacos, cacos e mais cacos. droga. a bagunça já havia ficado pior ainda. nessa hora minha consciência foi dominada pela minha parte 'foda-se' do cérebro que me disse que, agora que a bagunça já começou, que termine. agradeci-a pelo conselho e resolvi jogar um jogo. coloquei em cima de uma mesa comprida mas não larga que ficava atrás do sofá os vasos da casa enfileirados. fui até o quarto, busquei um taco de baseball e voltei. meu jogo era simples. quem destruir o maior numero de vasos com tacadas ganha. eu ganhei. a cada vaso que era destruído em uma rajada de cacos eu me sentia melhor. e a cada um eu tentava fazer diferente, batia mais em cima, mais embaixo, tentando fazer algum tipo de efeito nos vasos acertados. claro que eu não conseguia, mas eles eram destruídos da mesma forma então isso me alegrava. depois de todos os vasos reduzidos à cacos, me voltei para a televisão. ela já não funcionava, obvio, tinha uma garrafa de whisky inteira enfiada nela, mas isso tornava o motivo ainda maior para eu derruba-la. fiz isso. foi tão divertido quanto os vasos.
minha jornada da destruição durou por um bom tempo. fui na estante de porcelana e também destruí tudo. arranquei a porta da geladeira e do congelador que não congelava. quebrei o vidro do forno do fogão e aproveitei para derruba-lo ao chão de uma vez. joguei o computador pela janela. quebrei a mesa do meu quarto me jogando em cima dela. idem com a da sala. pulei na cama até todas as molas e suportes arrebentarem. arranquei a porta do armário, peguei a tesoura e cortei todas as minha roupas que nunca usei/usaria de novo (caridade? puf). apenas no intuito da mais pura ironia, joguei todos os pedaços de roupas debaixo do tapete e da cama. fui até a cozinha, peguei uma faca, voltei e furei todos os travesseiros da minha cama. e a cama. voou pena para todos os lados. o chão ficou branco quase que por completo. apenas para reforçar minha comédia, coloquei algumas das penas debaixo do tapete. fui até o lado de fora onde, no armazém, eu tinha guardado um moedor de madeira. fui até o escritório, derrubei a estante de livros, levantei ela de novo, peguei alguns dos livros mais inúteis, fui até o moedor, liguei e joguei os livros. foi uma chuva de pequenos pedaços de papel. não estava louco/bêbado o suficiente para achar que era neve, mas achei bastante bonito de qualquer forma. empolgado com a possibilidade de novos métodos de destruição, fui até dentro da casa e voltei com uma cadeira de madeira velha como todas as coisas da casa e joguei ela lá. era belo como ela sumia em segundos. desliguei o moedor para poupa-lo (ele era a unica coisa que realmente valia algo além da casa em si). voltei para dentro da casa, peguei todos os temperos/grão/coisas da minha cozinha e saí pela casa jogando tudo. pimenta, páprica, arroz, feijão, tudo no chão (rima não intencional). achei que faltava um pouco de musica no ar. fui até o tocador e tentei por um CD, mas assim como me lembrei, ele não lê CD. aproveitei então para jogar o CD pela janela. e o tocador. e a TV. fui até o banheiro com o taco de baseball e, com uma tacada só, arranquei a torneira. um jato de água começou a sair ininterruptamente, fui até o chuveiro e com igual eficiência, arranquei ele da parede e um jato de agua começou a sair. por um motivo que até hoje eu não sei explicar, a agua estava quente. ótimo. me molhei e continuei minha jornada.
minha dita jornada continuou por mais cerca de duas horas. ao fim eu não conseguia/consigo/conseguirei descrever a situação que estava a casa. tirando a casa em si, tudo, absolutamente tudo, havia sido repartido em dois ou mais pedaços. a sala, centro da minha diversão, estava o melhor. entrei nela molhado, escorregando em feijões e me sujando de tinta. desviei dos cacos, pulei a mesa quebrada e cheguei à poltrona, provavelmente a unica coisa em "perfeito" estado da casa. me sentei e, para minha indescritível felicidade, percebi que a mesa do lado ainda estava inteira e com o copo em cima, e nesse copo havia ainda uma quantidade considerável de whisky. o gelo havia derretido por completo, deixando-o com um gosto aguado péssimo. mas que não anulava a qualidade do whisky. me reclinei na poltrona e, tomando um gole a cada pouco, analisei a situação a minha volta. tudo destruído. lindo. isso tudo era realmente o que eu precisava. foi provavelmente a melhor sensação que tive em toda minha vida. em minha humilde opinião, deveriam-se criar spas que vendessem situações assim. devo dizer-lhes, nunca me senti tão bem. é uma sensação de libertação impressionante. não me importo mais em ir morar numa casa na fronteira do que chamamos de meio urbano. não mesmo. melhor lá do que essa casa como era antes. mas agora era maravilhoso (de um ponto de vista diferente do considerado normal, claro, mas maravilhoso de qualquer forma). cada caco no chão, cada mancha de tinta e cada grão de arroz no chão me traziam um pouco a mais de calma. 'aaahh' expressei enquanto relaxava mais ainda na poltrona e bebia mais um gole do whisky aguado. finalmente me sentia calmo.



'e ainda tenho de limpar essa merda toda depois.' pensei.




Um comentário:

  1. Que coisa retardada! Seu texto e o oposto das coisas que fazem ter vontade de viver! Aprenda a usar CAPS LOCK e a escrever.
    'E ainda tive que ler essa merda toda.' pensei.

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