o tempo passou. e passei colando. fui para a faculdade e menti até conseguir meu diploma de direito. me tornei advogado então. não que eu sentisse qualquer amor pelas leis e afins, mas sim porque nenhuma profissão se encaixava melhor com minha definição de ser do que essa. ganhei muitos casos pela minha naturalidade em falar minhas "inverdades". houve até mesmo situações em que chamaram especialistas em detectar mentiras para checar o que eu falava. mas como, para meu inconsciente, tudo que eu falava era verdade, eu não demonstrava qualquer reação. para todos exceto mim mesmo, eu era absurdamente honesto. o mentiroso perfeito. em situações em que deveria responder a verdade eu mudava de assunto ou respondia de forma a dar-se a entender que eu falei a coisa certa. funcionou muito bem. conheci uma mulher uma vez depois de um julgamento. ela não era bonita. uma pessoa maravilhosa, mas até certo ponto feia. começamos a nos relacionar. funcionou melhor do que eu imaginava. ou nem tanto. ela me chamava para sair e quando não queria era obrigado a ir. quando queria tinha que fazer alguma artimanha eloquente para conseguir ir. ela me perguntou se eu achava ela bonita uma vez. disse que sim. ela ficou muito feliz. me chamaram para um firma grande de advocacia em um momento e pediram meu currículo. menti nele também. coloquei conquistas que nunca foram minhas nem nunca tentei fazer. me contrataram. minto até hoje. talvez não mais porque preciso, mas acho que mais porque soube fazer usar isso a meu favor. é errado? talvez. mas funciona.
e ainda tenho perna longa.
Iago Schütte
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