sexta-feira, 3 de setembro de 2010

= = :)

tem um menino na minha sala que é engraçado. não que ele seja engraçado do ponto de vista humorístico. ou sim. não sei. nunca falei com ele. ninguém fala. mas a pura existência dele é engraçada. ele fala muito pouco, fica em um silencio fúnebre por quase todo momento que percebo a presença dele. um amigo meu já falou com ele há um tempo. tentou realmente se enturmar com o dito cujo. esse meu amigo deveria estar num bom humor ou desceu o anjo nele, não sei de certo o porque, mas ele foi falar. puxou assunto como se geralmente se puxa assunto. fala de uma coisa aqui, outra ali, todas o menino engraçado respondia da maneira mais natural do mundo, e até certo ponto de maneira receptiva, tanto que por um segundo achei que ele realmente poderia ser mais do que só um menino engraçado do canto da sala. o meu amigo resolveu então, partindo para a segunda parte de qualquer puxada de assunto, perguntar para o menino engraçado sobre os gostos dele. coisas simplórias do dia a dia. eles discordaram sobre o primeiro tópico. tudo bem. não faz mal. debateram sobre o segundo. também discordaram. certo, veremos. sobre o terceiro também não funcionou. meu amigo me chamou para a conversa. e nós falamos de um quarto assunto, do qual o menino engraçado prontamente discordou de nosso ponto de vista. no momento, naturalmente, perguntamos como diabos o dito menino não poderia gostar de tal coisa. todos gostavam disso. ele disse que simplesmente não e deu suas explicações. não prestei atenção nelas, não me dei ao trabalho, todas seriam baboseiras. perguntamos então, só para arriscar, sobre uma quinta coisa. ele também negou. absurdo. não essa quinta coisa. não é possível que alguém discorde disso. novamente perguntamos como ele se atrevia a não gostar da quinta coisa. ele novamente explicou, dessa vez resolvi prestar atenção, mas ele começou a falar coisas que negavam todo o intuito da quinta coisa e faziam-na perder toda sua singularidade e etc. imbecil. como ele acha que pode vir até a gente e falar essas coisas? a quinta coisa era perfeita por natureza, quem é ele para falar que não? idiota. ele me veio então entrar no assunto de uma sexta coisa e novamente a dar suas opiniões engraçadas sobre isso.
honestamente ele mereceu apanhar. foi bom. para nós e para ele. quem sabe ele assim aprende a parar de ter essas opiniõeszinhas inúteis.
a melhor parte é que a sala inteira se uniu para ensinar ele. todo mundo mesmo. honestamente fiquei orgulhoso da minha sala. o professor no inicio ficou assustado ao entrar na sala e ver a turma inteira aos pontapés no menino engraçado e tentou separar, alguém avisou ao professor o motivo. ele recuou e deixou tudo acontecer, ele entendia nosso ponto.
ele saiu acabado. de verdade. chegou a quebrar um braço e uma costela se não me engano. mas acho que foi bom pra ele, ele deve ter aprendido a lição.
depois de um mês em recuperação quando ele voltou para as aulas, eu fui até ele e perguntei o que ele achava agora das coisas que nós conversamos da ultima vez. ele não respondeu por um tempo. depois olhou pra mim com um olhar decido (desgraçado) e me disse que ainda achava tudo aquilo uma grande coisa sem sentido e que achava que todos deveriam pensar ao menos um pouco antes de...
soco.
outro.
e outro.
ele caiu no chão e la ficou. me perguntaram porque havia feito aquilo. expliquei. acharam compreensivo. ele ficou no chão. ninguém ajudou, claro, porque alguém o faria? demorou até levantar.
nos dias seguintes ele ficou apenas no canto dele da sala. isolado como era certo. às vezes ele tentava puxar assunto com alguém, mas todos olhavam para a pessoa e ficava clara a mensagem: ninguém fala, ninguém toca e ninguém se dirige a ele.
ele não existe. ele não merece existir.
todos entendiam, era o certo. ninguém vem falar essas idiotices e fica impune assim. ele tem que ficar no canto. ele tem que ficar isolado. ele tem que ficar como está.


é o que ele merece.



Iago Schütte

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