domingo, 14 de março de 2010

tele-porte

"O Sol de Kakrafoon crescia assustadoramente na tela, seu flamejante inferno branco de núcleos de hidrogênio em fusão crescendo a cada momento enquanto a nava se precipitava em sua direção, sem ligar para os socos de Zaphod sobre o painel. Arthur e Trillian estavam vom aquele mesmo olhar fixo de coelhos numa estrada à noite, quando acham que a melhor forma de lidar com os faróis que se aproximam é ficar olhando para eles imóvel.
Zaphod deu uma volta, com os olhos arregalados.
- Ford - disse -, quantas cápsulas de salvamento temos?
- Nenhuma - disse Ford.
- Você contou direito? - gritou Zaphod.
- Duas vezes - disse Ford
Ford empurrou Artur para o lado e debruçou-se sobre o painel de controle.
- Nenhuma dessas porcarias funciona? - disse, furioso.
- Todos desconectados.
- Destrua o piloto automático.
- Encontre-o antes. Nada faz sentido.
Houve um momento de silêncio seco.
Artur estava passeando pelo fundo da cabine. Parou de repente.
- Só por curiosidade - disse -, o que significa teleporte?
Parou por um outro momento.
lentamente todos se viraram em sua direção.
- Provavelmente esse é o momento errado de perguntar - disse Artur - É só que me lembro de ter ouvido vocês usarem essas palavras faz pouco tempo e só estou falando nisso porque...
- Onde - Disse Ford lentamente - está escrito teleporte?
- Bom, logo aqui, na verdade - Disse Artur indicando uma caixa escura de controle no fundo da cabine -, logo acima da palavra 'de emergência' e abaixo das palavras 'sistema de', e logo ao lado de um sinal que diz 'não funciona'.
No pandemônio que se seguiu instantaneamente, a unica ação que vale mencionar foi a de Ford se atirando através da cabine sobre a caixinha preta que Artur indicara e apertando repetidamente o pequeno botão preto que havia nela.
Um painel de dois metros quadrados abriu-se diante deles revelando um compartimento que parecia um banheiro com vários chuveiros que tinha encontrado uma nova vocação em sua vida como loja de equipamentos elétricos. Fios parcialmente desencapados caiam do teto, havia uma porção de componentes espalhados numa bagunça pelo chão e o painel de programação caia pendurado na cavidade da parede ende ele deveria ter sido instalado.
Um jovem contador do Disaster Area, visitando o estaleiro onde a nave estava sendo construída, perguntara ao mestre-de-obras por que diabos estavam instalando um teleporte extremamente caro numa nave que só tinha uma viagem importante a fazer, e sem tripulação. O mestre-de-obras explicara que o teleporte tinha sido instalado com 10% de desconto, e o contador explicara que isso era imaterial; o mestre-de-obras explicara que aquele era o mais refinado, mais poderoso e mais sofisticado teleporte que o dinheiro podia comprar; e o contador explicara que o dinheiro não queria comprá-lo; o mestre de obras explicara que, ainda assim, as pessoas teriam que entrar e sair da nave, e o contador explicara que a nave dispunha de uma porta perfeitamente utilizável; o mestre-de-obras explicara que o mestre de obras podia ir se danar, e o contador explicara ao mestre-de-obras que aquela coisa que estava indo rapidamente em sua direção era um punho fechado. Após todas essas explicações terem sido concluídas, os trabalhos no teleporte foram interrompidos e ele foi incluído discretamente sob o item 'despesas gerais', custando cinco vezes o preço original"

Douglas Adams


Iago Schütte - faz perfeito sentido

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