quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Casaco preto

em um raro dia de sol em uma cidade qualquer, numa rua de classe media, em uma casa normal, tocou um alarme. tocava sempre, todo dia, incluindo fins de semana, as 7am. o alarme, desnecessariamente alto, parou subitamente quando uma mão o atingiu. e assim começava o dia do jovem empresário. devagar, se espreguiçou, levantou da cama e andou em direção ao banheiro. seu andar não tinha nada de diferente, não andava rapido demais nem devagar demais, andava, simplesmente, normal. na verdade, tudo que ele fazia era normal. tinha um carro normal, sua empresa vendia um produto comum, tinha uma casa normal, fora criado numa familia normal. basicamente, nada de interessante e diferente tinha esse jovem empresário. era o tipo de pessoa que poderia dançar na sua frente que voce não perceberia. ele era só mais um na multidão. obvio que ele sentia isso. sua primeira namorada foi apenas na faculdade, uma simples menina, aluna mediana de um curso de disputa media. suas medias eram sempre medianas, seus amigos nunca foram grandes amigos, eram simples amigos que iam e viam. simples assim. provavelmente a maior decisão de sua vida fora criar aquela empresa. pode não ter sido uma decisão super elaborada, mas, pela primeira vez em sua simples e homogenea vida, fizera algo diferente. mas, o que poderia muito bem ter sido um ponto de mudança em sua vida, não passou de um evento isolado. contratou uns funcionários de capacitação media, investiu em areas de pouco risco. não buscava novos caminhos, novas maneiras de expandir seu negocio, continuava com a sua pequena sede em uma rua de classe media em uma cidade de tamanho medio.
vivendo sua normal vida, o empresario não encontrava muitos problemas, na verdade ele nunca chegou a realmente ter de enfrentar um problema cara a cara. vivendo como só mais um na multidão, o jovem empresário nunca criou inimigos ou grandes amigos. nunca fez algo arriscado. nunca se deu ao menos ao trabalho de pensar no 'e se?' das coisas. garanto que, se ele realmente tivesse a força de vontade ele teria mudado. teria parado de ser sempre aquele cara que não tem muita importância. teria seguido mais pra frente. arriscado mais com a empresa. ela teria crescido e ele teria se tornado um grande empresário. lembrado por muitos. teria conhecido a mulher de sua vida, teria se casado e tido filhos. teria realmente feito a diferença. não morreria sozinho em uma cama isolada do hospital, teria tido alguém que estivesse do lado dele, que seguraria a sua mão nos últimos momentos.
mas como dizia. após o seu banho matinal, o jovem empresário foi até a cozinha e arrumou sua mesa enquanto o café ficava pronto. não estava com muita pressa de ir para o trabalho, nada de muito emocionante acontecia em sua pequena empresa. raras vezes apareciam clientes, e os poucos que apareciam eram o suficiente para manter a empresa funcionando. após demoradamente tomar seu café, o jovem empresário foi para o quarto, enquanto vestia seu terno, o jovem empresário se olho no espelho. o terno estava apenas um pouco amassado, os sapatos levemente sujos, mas nada que não pudesse ser resolvido. depois viu seu rosto. não era um rosto alegre. muito pelo contrario, era um rosto triste, vazio. mas o jovem empresário nem reparava, já havia tempo que ele havia se acostumado com o que ele era.
arrumado, o jovem empresário pegou suas chaves e saiu do apartamento. pegou o metro em direção à empresa. por um problema em parte da linha pela neve da noite anterior. o jovem empresário teve de andar o resto do caminho. saindo da estação, o jovem empresário começou sua longa caminhada até a empresa. depois de algo como 10 minutos caminhando, o homem de casaco preto o chamou. o jovem empresário resolveu simplesmente ignora-lo. o homem de casaco preto então chegou do lado do jovem empresário. gritando coisas sem sentido e agarrando seu braço. o jovem empresário tentou se soltar. coisa essa que o homem de casaco preto não gostou. não precisou se muito. foram apenas dois tiros pro jovem empresário cair no chão. ninguém estava por perto para o socorrer. ali ele caiu. e ali ele ficou.
sua empresa empresa foi então passada para um de seus funcionários. com a empresa sobre novo comando, ela começou a investir em novos e mais arriscados negócios, e, devagar e sempre, ela foi crescendo. chegando a se tornar uma das maiores empresas do pais.
a policia nunca chegou a realmente descobrir quem era o homem de casaco preto e, honestamente, não se deu muito ao trabalho. mas para que?

ele era apenas mais um na multidão.


Iago Schütte - Fitter. Happier.

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