domingo, 30 de maio de 2010

Cloud Cuckoo Land - Parte I

Data: 30/05
Dia: 0

Hoje vou receber um paciente bem interessante aqui no consultorio. aparentemente ele sofre de algum tipo diferente de ilusão, o médico que me ligou não deu grandes explicações.
trarão ele do hospital do centro da cidade. os medicos de lá disseram que tentaram de tudo e que nada funcionou. então resolveram traze-lo para a nossa clinica, que é mais especializada em disturbios psiquiatricos desse tipo. me senti honrado, claro, mas estranhei o fato de não terem conseguido fazer nada. vou prestar atenção nesse paciente.

--

'Bom dia mundo!' pensei ao acordar. olhei pela janela, o dia estava como sempre belíssimo. quase que de maneira clichê, o sol brilhava, os passaros cantavam, as pessoas andavam na rua se comprimentando, a criancinha brincava na rua. mais um dia perfeito.
andei animado até a cozinha. lá, toda a familia já estava de pé. com sorrisos, todos nos demos bom dia, perguntamos como havia sido a sua noite e tudo mais. preparei uma deliciosa torrada e comi-a. na TV passava o jornal. aparentemente tudo ia bem. a economia crescia, a paz reinava e ninguem havia matado ninguem. enquanto meus pais conversavam sobre a corrida que eles iriam fazer no dia seguinte, fui checar o calendario para ver o que havia programado para hoje. clube de manhã, trabalho a tarde e a noite um magnifico jantar com a minha namorada naquele restaurante maravilhoso no centro da cidade.
subi as escadas, tomei um delicioso banho, me arrumei e passei o meu novo perfume. muito cheiroso por sinal. fui me despedir do meu pai, que me avisou que antes de ir pro trabalho eu teria que ir com ele nos encontrarmos na faculdade com meu tio. o clube ficava para outro dia.
a cidade estava maravilhosamente viva hoje. o transito estava quase nulo e cheguei na faculdade rapidamente. meu tio, professor na faculdade, estava me esperando na porta. quando chegamos meu tio e meu pai conversaram algo rapidamente e se despediram. deixei a chave do carro com meu pai que seguiu com o carro e acompanhei meu tio para dentro da faculdade. meu tio começou a fazer então uma sério de perguntas interessantes e tentei responde-las da melhor maneira possivel. gosto muito do meu tio.
nós ficamos conversando por um longo tempo. na hora de ir para o trabalho percebi que estava sem a chave do carro e sem o proprio carro para inicio de conversa. meio envergonhado, pedi o carro do meu tio emprestado. para minha surpresa ele me emprestou-o na hora. eu realemente achava que ele não emprestaria. o carro dele era uma antiguidade belissima que ele cuidava como um filho. agradeci de todas as meneiras possiveis. ele me guiou até o carro e fechou a porta para mim
dirigi feliz pela cidade. todos me olhavam com admiração. afinal, não é sempre que um carro desses anda pela cidade.
estacionei na garagem do prédio e subi para o trabalho. comprimentei todos no caminho. sempre gosto de dar bom dia para todos, nós sempre nos damos muito bem.
cheguei na minha sala rapidamente. não é a maior sala do prédio, ela pertence ao presidente da compania. já me ofereceram muitas vezes o cargo de presidente mas eu nunca aceitei. não queria ter responsabilidade demais, por isso aceitei esse cargo que tenho no momento, que é puxado, mas dá um bom salario e consigo meu tempo livre.
tudo ia ótimo na empresa. os numeros verdes cresciam e os vermelhos diminuíam.
o dia passou rapidamente e já estava na hora de começar a me arrumar para o encontro. fui para casa com o carro do meu tio, aproveitando cada momento de direção daquela bela maquina. cheguei em casa com meu pai na porta adimirando o carro. tirei onda um pouco e entrei para dentro para me arrumar. tomei um banho demorado, me arrumei e saí. quando olhei para o relogio vi que estava atrasado. liguei para ela e ela me acalmou avisando que tambem estava atrasada.
chegamos ao mesmo tempo no restaurante. els estava simplesmente linda. nunca na minha vida eu achei que conseguiria uma mulher assim. ela era a mulher perfeita. belissima, inteligente, engraçada, possuia um ótimo gosto musical e além do mais tocava cello.
fomos juntos até o garçom que nos guiou até a nossa mesa. puxei a cadeira para ela como todo bom cavalheiro e ela me retrubuiu com um belo sorriso.
pedi pro garçom o melhor caviar e o melhor champagne que ele podia nos fornecer. ele concordou e partiu.
começei a conversar com ela, e nos entretemos tanto que simplesmente perdemos a noção do tempo. mas voltamso à realidade com o ronco de nossas barrigas. chamei o garçom que passava e pedi para que trouxesse logo a nossa comida pois estavamos nós dois mortos de fome.
continuamos a conversar até que o garçom chegou com a comida. brindamos e começamos a comer. a comida estava simplesmente maravilhosa. chamei o garçom para que ele falasse para o chef como aquele caviar era provavelmente o melhor que ele já havia comido na vida dele. o garçom agradeceu o elogio e foi para a cozinha contar para o chef.
depois de terminadas nossas refeições, ficamos conversando por um longo tempo, até o momento em que o restaurante ia fechar e deveriamos partir.
a casa dela era bem perto do restaurante então resolvemos ir andando. chegamos na porta dela rindo até quase cair. depois de conseguirmos nos conter nos despedimos com um beijo e voltei para o restaurante para buscar o carro e ir para casa. do nada me veio um forte sono. rapidamente cheguei em casa e me deitei

essa foi definitivamente um noite maravilhosa.

--
Data: 31/05
Dia: 1

estou simplesmente em estado de choque. nunca em minha vida eu vi algo assim. quando ele chegou o medico que o acompanhavam me encontrou do lado de fora do carro e me explicou que no momento ele acreditava que estava na faculdade, onde eu era professor, e que era melhor não negar esse fato. cumprimentei-o gentilmente. ele não parava de me chamar de 'tio' por algum motivo. ele me perguntou sobre a faculdade, como iam as aulas e reclamou do tempo. eu apenas fui com a historio, e respondi todas as perguntas como se tudo fosse verdade. com a desculpa de ver algo sobre a materia, levei-o até uma das salas do consultório. lá tentei trazê-lo de volta para a realidade perguntando coisas sobre o mundo real. nesse momento vi uma das reações mais impressionantes de toda a minha carreira. o cérebro dele se protegeu de tal forma dentro de seu mundo privado, que quando eu fazia uma pergunta sobre o mundo dele, ele respondia naturalmente, mas qunado era uma pergunta sobre o mundo real, ele simplesmente distorcia completamente a pergunta de forma que ela se encaixasse em algo coerente com o mundo dele e respondia como lhe fosse conveniente. fascinante. depois ele me veio falar que precisava ir para o trabalho e, como o carro tinha ficado com o pai dele (que eu suponho que ele achasse que fosse o médico que o trouxe), ele me pediu o meu emprestado. vendo que não funcionaria em nada tentar negar a historia, falei que não havia problema e o guiei até um dos nossos leitos. quando chegamos na porta da sala, resolvi testar algo e falei que aquela era a porta do carro. quase que instantaneamente, o que era para ser na verdade uma porta normal, na mente dele se transformou na porta de um carro belissimo e de colecionador. ele ficou bastante feliz, me abraçou agradecendo, entrou na sala e acenou em despedida pela janela da porta enquanto eu a fechava e a trancava.
pelo resto do dia eu fiquei observando-o pela camera instalada na sala enquanto ele agia de acordo com seu mundo. vi quando eu fechei a porta como ele se sentou na cadeira e se movimentou como se estivesse dirigindo um carro e comprimentando pessoas imaginarias. depois ele aparentou entrar em um ambiente de trabalho onde comemorava o aumento dos lucros da empresa e vivia um dia normal de trabalho. depois ele começou a andar em circulos pela sala. acredito que ele estava achando estar andando pela cidade. ele então começou a se arrumar para um encontro que ele iria aparentemente ter. ele dirigiu novamente seu "carro" até em casa, onde ele foi tomar banho.
a parte do tomar banho é que realmente me impressionou. o nivel da profundidade de sua ilusão é tão grande que ele aparentemente sentia, ouvia e cheirava tudo como se fosse verdade. ele tirou a roupa, ligou o chuveiro imaginario, e ficou se movimentando como se passando o sabão pelo corpo, lavasse a cabeça. teve um momento em que ele começou a reclamar de dor nos olhos pois shampoo havia caido neles. curioso, dei um zoom na imagem e percebi que os olhos dele estavam vermelhos e lacrimejando, como se realemtne houvesse caido shampoo em seus olhos! depois de tudo isso ele colocou de volta as roupas (felizmente) e passou o que parecia ser um "perfume" e apreciou um cheiro inexistente.
ele entrou no carro e saiu em direção à algum lugar. no caminho ele olhou para um relogio imaginario e pareceu surpreso com algo. pegou um telefone imaginario e "ligou" para alguem. chegando nesse lugar (que então descobri que se tratava de um restaurante) ele se encontrou com a pessoa do telefonema. descobri que se tratava de um relacionamento afetivo imaginario que ele estava tendo. ele agia como se a mulher (ao menos eu suponho que seja do sexo feminino) estivesse na sua frente (seu olhar é vazio e não tem nenhum centro de atenção definido). eles então se sentaram em uma mesa imaginaria e pediram comida e ele ficou conversando.
eu me perguntei se deveria traze-lo comida, mas como parte de teste preliminares resolvi não trazer nada e ver como ele reagia. depois de ficar quase 40 minutos conversando com sua(seu) namorada(o) ele começou a reclamar que estava com fome e, em uma de suas ilusões, agiu como se houvesse realmente chegado a comida. 'é agora' eu pensei. para meu espanto, ele começou a roer a mesa em frente à ele.
com medo de que ele pudesse se machucar, sai em direção à seu leito e entrei na sala. quando cheguei, sua boca estava sangrando e coberta de farpas. ele ao me ver sorriu e (aparentemente não me reconhecendo como seu "tio") me pediu, e eu cito, que 'falasse para o chef como aquele caviar era provavelmente o melhor que ele já havia comido na vida dele'. eu apenas agradeci o elogio e me retirei da sala.
eu não podia deixar ele e aquela boca dele naquele estado. pedi para uma des enfermeiras me trazer um acalmante numa seringa. e em um momento em que ele estava de costas aparentando dirigir um carro, silenciosamente me aproximei e injetei o calmante. ele então cambaleou um pouco, foi em direção a cama, e se deitou como se estivesse indo dormir em uma dia normal.

esse caso é muito mais sério do que eu imaginava.

--


Nenhum comentário:

Postar um comentário